Título: Esforço do G-7 falha e guerra cambial será tema no G-20
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 13/02/2013, Finanças, p. C1

Apesar de os países do G-7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, terem reafirmado ontem que excluíram toda política de desvalorização competitiva de suas moedas, o Brasil insistirá no G-20 sobre os efeitos dos programas de liquidez dos países desenvolvidos nas economias emergentes.

As discussões sobre guerra cambial tendem a dominar o encontro de ministros de finanças e de presidentes de bancos centrais do G-20, o grupo dos 20 países mais ricos do mundo, na sexta-feira e sábado na capital russa. Mas alguns analistas na Europa consideram que a desvalorização competitiva de moedas não representa, no momento, nenhuma ameaça significativa para a recuperação da economia global. "O encontro do G-20 provavelmente não terá nenhuma ação concreta e o enfoque da imprensa sobre guerra cambial é mais uma distração do que um risco real para a frágil recuperação econômica global", diz Andrew Kenningham, da consultoria Capital Economics.

Às vésperas do G-20 na capital russa, os ministros de finanças do G-7 tentaram acalmar o mercado de câmbio com um comunicado no qual reafirmam o comprometimento com taxas determinadas pelas forças do mercado, que não é exatamente o que vem acontecendo. Mas o mercado de moedas reagiu com volatilidade.

O Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, confirma em relatório a seus integrantes que a combinação de flexibilização monetária nos Estados Unidos e agora também no Japão, com mais tomada de risco, contribuiu para um amplo movimento de divisas. Exemplo maior é a desvalorização da moeda japonesa em mais de 10%, em termos nominais, desde junho do ano passado. Em contrapartida, o euro e o dólar australiano se valorizaram bastante.

Economias menores sofrem com a apreciação de suas moedas. O won da Coreia do Sul e o peso do México se valorizaram quase 9% desde meados de 2012. O yuan chinês, por sua vez, permaneceu estável e as pressões por sua alta diminuíram, em parte por causa da aceleração da saída de capitais de residentes chineses.

Mas o IIF ressalva que, mesmo após a recente desvalorização, o iene japonês continua cerca de 10% abaixo de sua média desde 2000, em termos nominais. O euro se valorizou 5% desde junho, refletindo a desvalorização da moeda japonesa, mas também a menor aversão a risco em relação a ativos da zona do euro.

A Suíça insistiu ontem que não vai alterar sua política de intervenção no câmbio, pela qual pretende manter o limite de um euro a 1,20 franco. Antes, esse limite era para evitar excessiva valorização da moeda suíça. Agora é mais para frear uma desvalorização maciça e rápida do franco.

É que mais capitais estão saindo de ativos considerados "safe haven", como o franco suíço, em direção de ativos mais arriscados, resultando em crescente fluxo de capitais para as economias emergentes. Conforme o IIF, se esse cenário persistir, ocorrerá em 2013 a primeira alta no fluxo para os emergentes desde 2010.

O discurso do Brasil sobre guerra cambial passou a ser copiado na América Latina. E no G-20, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deverá insistir nas críticas ao efeito dos programas de liquidez e às consequências do câmbio no comércio, apresentado como nova forma de protecionismo.