Título: Aumentar o nível educacional: desafio para a AL e o Caribe
Autor: Cox, Pamela
Fonte: Correio Braziliense, 11/12/2010, Opiniao, p. 31

Se a educação consistisse apenas em assistir aulas, a América Latina e o Caribe já teriam feito o seu dever de casa. A maioria dos países da região apresentou um enorme avanço para universalizar o ensino básico, e houve também um evidente progresso nos níveis médio e superior.

No entanto, mais do que o acesso, o principal objetivo da educação é o aprendizado. Garantir que as crianças e os jovens tenham desempenho adequado é uma condição necessária para o avanço da sociedade. Nesse sentido, a região ainda tem trabalho a fazer.

Essa é uma questão fundamental, que foi pauta dos chefes de estado e de governo que se reuniram último fim de semana em Mar del Plata, na Argentina.

Ano após ano, os países da América Latina têm resultados insatisfatórios nos exames de avaliação internacionais. À exceção do Uruguai, o desempenho dos países da região está muito abaixo do esperado para seus níveis de renda per capita.

Em 2006, alguns países da região ¿ Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Uruguai ¿ participaram do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) da OCDE. Todos se situaram entre os 20 países com menor rendimento em leitura, matemática e ciências, muito abaixo da média de quase 60 nações.

Assim, torna-se evidente que a melhoria da educação deve ser prioridade para os políticos, educadores e as famílias da região. Isso é urgente também porque a América Latina ainda é muito desigual e a educação é o mais importante fator para a mobilidade social.

Durante muitos anos essa simples ideia não penetrava em alguns setores da sociedade. Tanto os governos quanto as elites tinham medo de que trabalhadores mais qualificados pudessem afetar a produtividade pelo aumento dos custos laborais.

Hoje, tornou-se claro que a competitividade demanda profissionais que disponham das habilidades necessárias para enfrentar os desafios do século 21. Os investimentos voltados para a expansão das oportunidades educacionais entre a população de baixa renda se justificam em termos econômicos e sociais.

Embora a disparidade entre ricos e pobres tenha diminuído nos últimos anos, esse tema ainda faz parte da realidade da região. Enquanto quatro entre cinco crianças nos domicílios de alta renda concluem o ensino médio, apenas uma em cinco crianças mais pobres consegue isso.

Para reduzir essas desigualdades, os governos enfocaram diversos aspectos do ensino, desde os programas voltados para o desenvolvimento da primeira infância até as iniciativas de aprendizado para a vida inteira. O Banco Mundial proporciona assistência técnica e financeira para muitos desses programas.

Vários estudos indicam que os investimentos em capital humano mais eficientes em termos de custo-benefício são aqueles feitos nos primeiros cinco anos de vida de uma criança. No intuito de proporcionar oportunidades iguais às crianças mais pobres, o Banco Mundial e a Fundação Alas, da cantora Shakira, lançaram uma iniciativa de US$300 milhões para o desenvolvimento da primeira infância em fevereiro de 2010. Mais de US$100 milhões já foram aprovados para essa finalidade na Argentina, no Brasil, Haiti, México e Peru.

A maioria dos países avalia os seus sistemas pedagógicos por meio de testes nacionais padronizados, mas poucos divulgam os resultados ao público ou os utilizam como instrumentos para melhorar a qualidade do ensino.

A qualidade da educação deve ser avaliada pela sua capacidade de prover as aptidões relevantes para o mercado de trabalho. O México, apoiado por um financiamento de US$700 milhões do Banco Mundial, está reformando o seu sistema educacional de forma que as instituições de ensino médio possam adotar um currículo nacional em pelo menos metade das escolas públicas.

Sem essas e outras iniciativas, a possibilidade de criar oportunidades iguais para os mais jovens se torna muito mais difícil.

Para que a educação seja mais inclusiva ¿ o lema da Cúpula de Marl del Plata ¿ será essencial adotar abordagem baseada em resultados, com vistas a uma educação de alta qualidade. Isso contribuirá para a expansão dos avanços econômicos e sociais dos últimos anos por toda a sociedade.