Título: PIB em queda após ano duro na UE
Autor: Blackstone , Brian
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2013, Internacional, p. A13

A economia da zona do euro esfriou no trimestre passado no ritmo mais rápido em quase quatro anos, à medida que a desaceleração da atividade mundial e profundas recessões ao longo da fronteira meridional da zona da moeda única contaminaram potências como a Alemanha e a França.

O relatório sobre o Produto Interno Bruto (PIB) produzido pela agência de estatísticas da União Europeia ressalta um risco crucial para o bloco da moeda única, quando a crise da dívida na Europa entra em seu quarto ano. As condições no mercado financeiro melhoraram substancialmente desde o inverno passado, devido em grande parte à promessa do Banco Central Europeu de fazer "o que for preciso" para preservar o euro. Mas esses ganhos não se traduziram em novas atividades de negócios.

Sem crescimento em suas economias, a Espanha e a Itália provavelmente verão a carga de endividamento governamental aumentar, mesmo com a adoção de medidas de austeridade, como elevação de impostos e redução de gastos. Isso poderá reacender as dúvidas, nos mercados financeiros, sobre a sustentabilidade de suas finanças.

O PIB da zona do euro caiu 0,6% no quarto trimestre, em comparação com o terceiro, de acordo com o relatório do Eurostat. Isso se traduz em uma queda anualizada de 2,3%, de acordo com o economista Greg Fuzesi, do J. P. Morgan. Economistas esperavam uma queda de 0,4% no trimestre. Foi o terceiro declínio trimestral consecutivo do PIB e o quinto trimestre consecutivo em que o PIB do bloco de países da moeda única não cresceu. Na comparação com o último trimestre de 2011, a queda foi de 0,9%. Para 2012 como um todo, o PIB caiu 0,5% em relação ao ano anterior.

O relatório "trouxe um final desanimador para um ano muito difícil para a zona euro", afirmou Howard Archer, economista do IHS Global Insight. Ele acredita que o PIB perderá mais 0,2% neste ano. O euro caiu a um mínimo em três semanas devido aos resultados econômicos mais fracos do que o esperado por analistas.

O PIB da Alemanha, maior economia na Europa, recuou 0,6% em relação ao trimestre anterior, devido a uma queda das exportações e do investimento, o que equivale à taxa anualizada de 2,3%. O PIB da França, segunda maior economia do euro, encolheu ao ritmo anualizado de 1,1%. Outras grandes economias, como a Itália, Espanha e Holanda também encolheram.

O PIB da Itália caiu a um ritmo anualizado de 3,7%, uma taxa muito mais acentuada de queda do que no terceiro trimestre. A desaceleração na Espanha também se aprofundou. O PIB de Portugal caiu a uma taxa de 7,2% nos três últimos meses de 2012, o dobro do ritmo de declínio no terceiro trimestre. O PIB grego contraiu-se 6% em comparação com níveis do ano anterior. A agência estatística não divulgou uma variação trimestral, mas Fuzesi estima que o PIB tenha recuado 16%, a uma taxa anualizada, ante o terceiro trimestre.

Autoridades do BCE acreditam que a zona do euro embarcará numa recuperação gradual ainda em 2013 e não se espera que reduzam os juros oficiais no curto prazo, apesar da queda do PIB, disseram analistas.

Mas a fonte da recuperação permanece indefinida. O desemprego recorde na zona do euro pesou sobre os gastos dos consumidores, ao passo que as medidas de austeridade fiscal, acredita-se, esfriarão os gastos dos Estados e o mercado de trabalho em muitos países da zona do euro neste ano. Os custos de tomada de empréstimos para pequenas empresas permanecem elevados na Espanha e na Itália.

Na Alemanha, onde o desemprego é muito menor do que em outros países da região, a economia parece estar reagindo rapidamente, e pesquisas junto a empresas têm sinalizado um retorno ao crescimento neste trimestre, ajudado em parte por exportações mais fortes para a Ásia. O esfriamento econômico no final de 2012 "provavelmente será um trampolim para uma recuperação em forma de "pequeno V"", já neste trimestre, disse Christian Schulz, economista do banco Berenberg.

Pesquisas envolvendo gerentes de compras e outros líderes empresariais sugerem que a França continuará em contração neste trimestre. Uma série de aumentos de impostos implementados pelo presidente François Hollande está se somando aos ventos contrários enfrentados pela economia. O governo está se preparando para reduzir a pelo menos metade a sua previsão de crescimento de 0,8% do PIB para este ano, segundo fontes familiarizadas com o assunto.