Título: Lucro operacional de teles aumenta 13% no 4º trimestre
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2007, Empresas, p. B3

As prestadoras de serviços de telefonia que atuam no país apresentaram lucro operacional 13% maior no quarto trimestre do ano passado, em comparação com o mesmo período de 2005. As vendas de banda larga e celular e a adoção de uma política mais austera de subsídios aos preços de aparelhos móveis foram duas das principais razões para esse crescimento.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações (lajida) para um conjunto de sete empresas listadas na Bovespa totalizou quase R$ 6 bilhões nos três últimos meses de 2006, aponta levantamento feito pelo Valor Data.

Foram consideradas no estudo as demonstrações financeiras da Brasil Telecom Participações (BrT), Tele Norte Leste Participações (Oi), Telesp, Embratel, GVT, Vivo e TIM. Para as duas últimas, foram observados os balanços pro forma, uma vez que as operadoras de telefonia móvel passaram por processos de reestruturação societária. Ficaram de fora a Telemig Celular e a Amazônia Celular, que ainda não divulgaram seus resultados, e a Claro, que não tem capital aberto.

Os dados mostram um crescimento bem mais significativo - de 420,6% - no lucro líquido dessas sete companhias, que foi de R$ 2,7 bilhões entre outubro e dezembro. No entanto, esse número recebeu um belo empurrão de fatores não-recorrentes, em especial o reconhecimento de créditos fiscais.

A Vivo, por exemplo, contabilizou R$ 1 bilhão em ganhos tributários decorrentes de um processo de reorganização societária. A Oi (ex-Telemar) também lançou em seu balanço R$ 292 milhões em créditos relativos a sua unidade de telefonia móvel.

Com isso, o lucro líquido consolidado da Oi, divulgado ontem, totalizou R$ 613,3 milhões entre outubro e dezembro. No mesmo período do exercício anterior, o ganho havia sido de R$ 416,4 milhões.

De forma geral, as teles apresentaram desempenho melhor no último trimestre do que na soma de todos os meses do ano. Ao logo de 2006, as operadoras alcançaram receita líquida de R$ 71,9 bilhões e lajida de R$ 23 bilhões, que significam respectivamente crescimento de 3,95% e 2,6%.

As concessionárias Telesp, BrT e Oi foram razoavelmente bem-sucedidas em compensar com outros serviços a tendência de declínio na receita de telefonia fixa.

Em meados do ano, a Brasil Telecom chegou a revisar suas projeções e dizer que esperava fechar 2006 sem crescimento na receita. Os números acabaram se mostrando levemente melhores do que isso: as vendas aumentaram 1,6%, para R$ 10,1 bilhões.

Na BrT, os segmentos de dados e de telefonia móvel representaram quase 28% do faturamento no último trimestre, sinalizando um esforço para reduzir a dependência daquela que até hoje é sua atividade principal. "O perfil da empresa vai ser muito diferente daqui a cinco anos", disse o presidente da empresa, Ricardo Knoepfelmacher, numa entrevista concedida à imprensa para comentar o balanço.

A questão é que, ao menos por ora, celular e banda larga geram margens menores do que a telefonia tradicional, destacou o analista de investimentos André Rocha, do Unibanco.

Por isso, diversificação dos negócios tornou-se chave para as empresas. Uma evidência é a ambição das teles em ingressar no mercado de TV por assinatura. Nesta semana, a Telesp (grupo Telefónica) obteve autorização da Anatel para atuar no segmento de TV via satélite. A companhia ainda aguarda o posicionamento do órgão regulador para a compra de parte dos ativos da TVA, assim como a Oi espera a anuência para a aquisição da WayTV, de Belo Horizonte.

Esses movimentos foram amostras de um processo de ampliação dos negócios e de consolidação do setor que deverá se intensificar neste ano. A Oi e a BrT - cujos acionistas ambicionam unir as duas empresas - estão declaradamente se preparando para ir às compras.

Ao longo de 2006, ambas optaram por fortalecer seus caixas com o alegado objetivo de se preparar para eventuais aquisições, em vez de atender à demanda dos acionistas por dividendos mais gordos. A Oi encerrou o ano passado com R$ 4,7 bilhões em caixa e a BrT, com R$ 4 bilhões.

"Queremos reduzir o endividamento e deixar o caixa disponível para participar de oportunidades no setor", afirmou ontem o diretor financeiro da Oi, José Luís Salazar.

A companhia havia sinalizado o pagamento de R$ 3 bilhões em dividendos caso os minoritários aprovassem uma reestruturação societária que resultaria na pulverização de seu capital. Como isso não aconteceu, a Oi até reduziu a remuneração aos acionistas na comparação com 2005. Somando a holding Tele Norte Leste e a empresa operacional Telemar, será distribuído cerca de R$ 1 bilhão. A Telesp manteve-se como a maior pagadora de dividendos do setor, com algo perto de R$ 3 bilhões.

Se a ampliação do leque de serviços direcionou as estratégias das fixas no ano passado, para as operadoras móveis o nome do jogo foi austeridade. As empresas de celular reduziram visivelmente os subsídios aos aparelhos e algumas deles - como a Oi - chegaram a eliminar esse tipo de benefício na venda de pré-pagos.

O ritmo de crescimento da base de assinantes diminuiu e o país terminou 2006 com 99,9 milhões de usuários de celular, mas a rentabilidade das operadoras começou a dar sinais de melhora. "Posso subsidiar o aparelho mas dentro de um estudo econômico avaliando o tráfego que esse cliente vai agregar à minha rede", destacou o presidente da TIM, Mario Cesar Pereira de Araujo. (Colaboraram Heloisa Magalhães, do Rio, e Michelly Teixeira, do Valor Online, de São Paulo)