Título: Dilma chama de ajuste o que é reforma ministerial
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2013, Política, p. A7

A presidente Dilma Rousseff tem horror à expressão "reforma ministerial". Quando pode, tenta descaracterizá-la, chamando-a de ajuste. É esse o pano de fundo da declaração da ministra Helena Chagas (Comunicação de Governo), feita em visita ao comitê de imprensa do Palácio do Planalto, de que a presidente não pensa em reforma.

A presidente pode até chamar de ajuste ou ajuste pontual as mudanças que está negociando no governo, mas na realidade trata-se de uma reforma. Nem que ela seja feita aos pedaços, como aconteceu em seu primeiro ano de mandato. Ou que ela tire apenas um ministro, como aconteceu com a saída de Antonio Palocci do governo, em 2010.

A saída de Palocci representou uma grande mudança no governo Dilma Rousseff, tanto em termos de política econômica como de coordenação política.

Os ajustes em estudo, no momento, começam a cheirar a reforma. A presidente tem o compromisso de ampliar o espaço do PMDB. Se o partido voltar ao Ministério dos Transportes, como gostaria e é especulado, o ajuste já poderá ser chamado de reforma. Mais ainda, de "reforma da reeleição", sobretudo se o ministério for para alguém do PMDB mineiro.

Dilma está pensando na reeleição quando acolhe o PSD de Gilberto Kassab no governo. O partido deve levar o Ministério das Micro e Pequenas Empresas, em fase de criação, e - talvez - a Secretaria Nacional de Aviação Civil, que não consegue desatar o nó dos aeroportos brasileiros. Isso será reforma. Do ministério, talvez dos aeroportos.

A presidente também quer ter uma conversa de comandante para "comandante" com o ministro do Trabalho, Brizola Neto, que não comanda nada no PDT, até hoje controlado pelo ex-ministro Carlos Lupi.

Logo o PDT, em cujos quadros a presidente militou, namora a eventual candidatura presidencial do governador de Pernambuco e dono do PSB, Eduardo Campos. E em São Paulo abriga Paulinho da Força, que não faz outra coisa a não ser bater em seu governo.

Fatiada ou não, a mudança preparada por Dilma está mais para reforma em várias rodadas, como aconteceu no primeiro mandato, do que a um mero ajuste. Aliás, ajustes devem ocorrer bem mais adiante, com a definição de candidaturas presidenciais. Ajuste de contas.