Título: Girassol vive nova fase de crescimento com biodiesel
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2007, Agronegócios, p. B12

No pequeno município de Itaberá (SP), 318 quilômetros a oeste de São Paulo, Pedro de Oliveira admira a lavoura de girassol, já um pouco ressecada, a dois dias da colheita. A variedade eleita é a catissol, que gera uma flor de miolo e sementes pretas e tem produtividade de 1,5 mil a 2,6 mil quilos por hectare. Desse volume, 40% é convertido em óleo quando esmagado - o dobro do índice obtido com a soja -, e o farelo é usado como ração para o gado.

"A gente testou o girassol de semente rajada [usada como ração para aves], mas não produziu óleo nenhum", conta Oliveira. Nesta safra de verão, ele e outros sete agricultores do assentamento Agrovila 6, da Fazenda Pirituba, cultivaram em conjunto 1 hectare de girassol, para testar o potencial da cultura para a produção de biocombustível.

Na safra de inverno, já se programaram para cultivar 8 hectares e, no ciclo 2007/08, plantarão 20 hectares da variedade. Em parceria com uma organização não-governamental catalã, os assentados também desenvolveram um mecanismo para fabricação de biocombustível - produzido apenas com girassol e que dispensa a transesterificação, processo que separa a glicerina do óleo para a produção de óleo combustível.

O sistema é simples, composto pela prensa (também usada nas usinas convencionais), dois tanques de decantação e um sistema de filtragem que tem atraído indústrias de equipamentos, interessadas em conhecer a nova tecnologia. "No ano passado, fizemos 300 litros de óleo, que está sendo usado até hoje na cozinha. Mas a idéia é produzir 400 a 500 litros de óleo por hectare e usar nos tratores, que já tiveram o motor adaptado", diz Luiz Carlos Roman, produtor da Agrovila 6. Em 2008, segundo ele, a meta dos agricultores é comercializar o biocombustível.

Os produtores de Itaberá seguem o raciocínio de inumeráveis agricultores familiares do país, que vêem na cultura uma nova alternativa de renda. O desenvolvimento do programa de biodiesel estimulou o avanço das lavouras de girassol, que até então tinham a produção restringida pela dificuldade de vendas no mercado doméstico e pela concorrência direta com o milho, já que é plantado essencialmente na safrinha).

Levantamento feito pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta para a safra 2006/07 uma expansão da área de 66,9 mil para 80 mil hectares, e produção 28,2% maior, de 120 mil toneladas de sementes. A Embrapa Soja, que comercializa sementes de girassol, estima uma área bem superior, entre 200 mil e 300 mil hectares, contra 110 mil hectares plantados no ciclo 2005/06. "Em virtude do interesse pelo biodiesel, o plantio deve dobrar", afirma Regina de Campos Leite, pesquisadora da Embrapa Soja.

A produção, conforme estimativa da estatal, deve se concentrar no Rio Grande do Sul (com 35 mil hectares plantados) e Goiás (50 mil hectares). Regina observa que o girassol tem ciclo curto (de 70 a 110 dias) e pode ser cultivado em qualquer região do país. O custo de produção é baixo, em torno de R$ 500 por hectare e renda próxima a R$ 624/hectare. "Plantar girassol é mais barato que plantar feijão", diz Pedro Oliveira.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, existem hoje seis indústrias com o Selo Combustível Social e outras dez no processo de obtenção. Juntas, elas negociaram nos leilões de biodiesel 840 milhões de litros. A perspectiva do governo é que a busca do selo estimule parcerias entre usinas e 200 mil agricultores familiares.

A Brasil Ecodiesel, que tem contratos com 34 mil agricultores familiares no país - envolvidos em diferentes culturas - , está fornecendo sementes e assistência a produtores da região Sul, do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins. "Neste ano, vamos comprar 230 mil hectares de lavouras de girassol para a produção de biodiesel, o que significa uma produção de 368 mil toneladas", afirma Marcos Moraes, gestor de matérias-primas na Brasil Ecodiesel.

A Petrobras também informou, recentemente, que comprará no Rio Grande do Norte a produção de 1,5 mil hectares de girassol para fornecer matérias-primas a uma planta de biodiesel instalada em Guamará (RN). Segundo informações do governo federal, Barrálcool, Soyminas, Pontes di Ferro, Biocapital, BS Bios e Global Agrienergy também devem utilizar a oleaginosa como matéria-prima para produção de biodiesel.

A Caramuru também tem planos de elevar a produção de óleo de girassol, mas para alimentação. No ano passado, a empresa processou 14 mil toneladas de girassol e espera elevar o volume para 20 mil neste ano, de acordo com Cesar Borges, vice-presidente da Caramuru. A maior parte desse volume virá de Goiás, que produziu 11,9 mil toneladas na safra 2005/06 e deve colher 33,8 mil toneladas no atual ciclo.