Título: Dinheiro chinês ajuda a reeleger Correa no Equador
Autor: Murakawa , Fabio
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2013, Internacional, p. A11

Os bilhões de dólares em créditos concedidos pela China facilitaram a tarefa de Rafael Correa de se reeleger presidente com uma margem folgada nas eleições de ontem no Equador.

Segundo analistas, o dinheiro chinês tornou-se fundamental para o governo Correa depois que o presidente anunciou um calote de US$ 3,2 bilhões em pagamentos de títulos da dívida em 2008. Sem outras fontes de financiamento, foram os chineses que ajudaram a cobrir o déficit causado pela alta dos gastos do governo nos últimos anos. Esses gastos levaram o país a um crescimento sólido do PIB e ajudaram a reduzir a taxa de pobreza de 52% para 32%, desde que ele assumiu o cargo, em 2007.

Com o gasto público em alta, o déficit fiscal do Equador chegou a 5,7% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado e deve superar os 7% do PIB neste ano. Esse déficit tem coberto em parte pelos US$ 9,25 bilhões em créditos concedidos pela China, muitos deles tendo o petróleo - principal produto de exportação do país - como moeda de troca. Correa também elevou os gastos com educação de 2,5% para 6% do PIB, concedeu benefícios sociais em dinheiro para famílias mais pobres e tem bilhões de dólares contratados em obras de infraestrutura, que impulsionam o crescimento do país.

"O Equador é hoje um dos países com mais alto índice de investimento na América Latina, com 15% a 16% do PIB", diz uma fonte do governo brasileiro. "Sem o dinheiro chinês, provavelmente esses investimentos não existiriam."

A fórmula deve continuar intacta no novo mandato, de quatro anos. Em dezembro, o ministro das Finanças, Patricio Rivera, anunciou que o governo usará um novo empréstimo de US$ 2 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China (BDC) para financiar um déficit orçamentário estimado para este ano em US$ 6 bilhões, cerca de 7,75% do PIB.

Kevin Gallagher, professor de Relações Internacionais da Universidade de Boston e estudioso da atuação da China na América Latina, aponta outro benefício dos empréstimos concedidos pelo país asiático. Ele lembra que só o fato de a China estar financiando os gastos do governo Correa levou a agência Moody"s a aumentar a nota de crédito ao Equador no ano passado. "Isso foi de certa maneira surpreendente, porque eles haviam dado um default em 2008 e não estavam com uma imagem muito boa", disse ele ao Valor. "Eu não sei se a China estava fazendo isso conscientemente. Mas, ao emprestar dinheiro ao Equador, melhorou a credibilidade do país."

Para Gallagher, o relatório da Moody"s sinaliza ao mercado que o Equador tem liquidez para cumprir seus compromissos e pode facilitar a tarefa de Correa para conseguir outros empréstimos no mercado de capitais, apesar do calote de 2008.

Além dos mais de US$ 9 bilhões em financiamentos, a China também é o principal parceiro do país em obras de infraestrutura. Segundo a fonte do governo brasileiro, os chineses tocam hoje cerca de US$ 6 bilhões em projetos como hidrelétricas, irrigação e estradas, entre outros, no país. As empresas brasileiras, também com participação importante, têm hoje contratos que totalizam cerca de US$ 1,5 bilhão no Equador.

Essas obras, dizem analistas, foram fundamentais para gerar empregos e melhorar a renda no país, o que se refletiu na avalanche de votos recebida ontem pelo presidente. Em entrevista à rede britânica BBC nesta semana, Ralph Murphine, que foi consultor de Correa na campanha presidencial de 2006, resumiu: "A campanha de Correa começou um ou dois anos atrás, quando estradas foram pavimentadas e quando as pessoas começaram a receber pagamento em dinheiro."