Título: Controle de preços expõe luta por poder entre secretários do governo
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2013, Especial, p. A14

O congelamento de preços em supermercados e redes de eletrodomésticos por 60 dias é mais um passo do secretário de Comércio Interior Guillermo Moreno para concentrar poder em meio às disputas internas que marcam a equipe econômica argentina.

Formalmente subordinado ao ministro da Economia Hernan Lorenzino, Moreno se movimenta para controlar duas áreas cruciais da condução macroeconômica: o câmbio e a evolução de preços. No mês passado, Moreno afirmou em uma rara entrevista concedida no Vietnã que previa um dólar oficial cotado a seis pesos no final do ano.

A antecipação da valorização do dólar já foi uma política de Estado na Argentina. Entre 1976 e 1981, durante o governo Rafael Videla, o então ministro da Economia Alfredo Martínez de Hoz implantou a "tablita", uma projeção da desvalorização da moeda a longo prazo.

Dono de uma pequena loja de ferragens, com 57 anos, Moreno formou-se em economia nos anos 80 e teve uma trajetória obscura na militância peronista ao longo dos anos 90. Em 2003, por intermédio do atual ministro do Planejamento Julio de Vido, foi apresentado ao então candidato presidencial Nestor Kirchner.

O antecessor e marido da atual presidente, Cristina Kirchner o nomeou para a secretaria de Comunicações e em 2006, após a demissão do ministro da Economia Roberto Lavagna, criou para ele a secretaria de Comércio Interior. Nesse posto, sem assinar atos de ofício ou fazer pronunciamentos públicos, Moreno sucessivamente interveio no mercado de carne, comandou boicotes a distribuidoras de combustíveis e humilhou CEOs de empresas, tratando-os a palavrões em reuniões coletivas.

Em 2007, coordenou a intervenção no Indec, o instituto oficial de estatísticas, que calcula o índice de inflação. Desde então, o dado perdeu a credibilidade, e hoje registra uma variação de preços que não é nem a metade da considerada por todos os agentes econômicos no país e fora dele.

Dentro do ministério, Moreno divide a cena com o vice-ministro da Economia Axel Kicillof, que foi protagonista do processo de reestatização da petroleira YPF e que coordena todas as participações societárias que o governo tem em empresas de capital aberto, entre elas brasileiras como a Petrobras, a JBS e a subsidiária local do Banco do Brasil. É Kicillof, e não Moreno, quem atua em assuntos como investimentos estrangeiros diretos e está nas mãos do vice-ministro a condução de temas como a política de subsídios do governo. A relação entre ambos não é boa, segundo comentaram sob reserva diplomatas argentinos e executivos de empresas brasileiras. (CF)