Título: Investimento vai a 21,5% do PIB em 2007, estima Ipea
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2007, Brasil, p. A3

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) avalia que o investimento vai continuar, junto com o consumo das famílias, a comandar o crescimento da economia em 2007. O Ipea estima que, em 2006, a taxa de investimento ficou em 20,6% do Produto Interno Bruto (PIB) e esse número deve crescer cerca de um ponto percentual este ano e ficar em 21,5% do PIB, informou ontem Fábio Giambiagi, economista do grupo de acompanhamento conjuntural da instituição. "A contribuição do setor externo, a exemplo do que ocorreu em 2006, deve continuar sendo negativa", acredita ele.

O Ipea, informou Giambiagi, vai apresentar amanhã a primeira revisão da projeção do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2007. Segundo o economista, a atual previsão de 3,6% será revista para cima e, embora ainda fique abaixo dos 4%, outra revisão pode ocorrer depois que o IBGE divulgar a nova série de dados das contas nacionais, no fim de março.

"Vamos rever ligeiramente para cima a estimativa de crescimento", explicou Giambiagi. "Existe a possibilidade de que o número do fim do ano seja razoavelmente maior do que aqueles 3,6% do nosso último boletim, mas ainda vamos esperar a divulgação das novas contas nacionais, no fim do mês, para fazer uma eventual revisão maior", completou ele, que participou ontem, do seminário "Cenários da Economia Brasileira e Mundial em 2007", organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a Firjan e o Valor.

Para Giambiagi, as turbulências nos mercados globais ainda são muito recentes e é prematuro dizer que haverá impacto na economia local. Ele ressaltou, por exemplo, que o câmbio não sofreu tanto desde o início da crise. "Nossa capa de resistência hoje é muito diferente, a dívida externa é significativamente menor e temos US$ 100 bilhões em reservas, o que é uma fortaleza", disse. Giambiagi reconhece que o déficit em conta corrente americano é um problema e pode continuar gerando espaço para correções nos mercados. "O que pode ocorrer é um crescimento menor da economia americana, de 2,5% em vez de 3,5%", cogita.

Já o ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio da Ciano Investimentos, Ilan Goldfajn mostrou-se mais apreensivo com o cenário externo e disse que a volatilidade, que vinha sendo muito baixa até o início da semana passada, pode continuar. Para ele, desta vez, diferentemente do que ocorreu em outros momentos, a crise vem do centro da economia e do consumo mundial, os Estados Unidos, e não de países periféricos ou emergentes.

Goldfajn acredita que ainda é cedo para saber se o crescimento brasileiro poderá ser afetado. "Tudo indicava que, mantido tudo como estava, o Brasil vinha com uma recuperação forte este ano. Ainda é cedo para prever o que vai acontecer em função da economia americana, é um cenário que está se desenhando. Mas o que se vislumbra lá ainda é uma desaceleração e não uma recessão", lembra Goldfajn, que também não acredita que o BC deva interromper os cortes na taxa de juro e acredita que seja importante continuar com a política de aumento de reservas.

Segundo ele, os dados mais recentes, do último trimestre, mostram a economia dos EUA se acomodando a um nível menor, mais próximo de 2%. "Não é recessão, mas indica desaceleração", disse, ressaltando que o desenrolar desse ciclo, ainda indefinido, é que vai ter influência sobre o comportamento dos investidores e mercados.

O que ex-diretor do BC não acredita, porém, é que as demais economias do mundo consigam se descolar do comportamento da economia americana. "Os EUA ainda são o grande consumidor e isso tem impacto nas exportações do resto do mundo, principalmente da Ásia, para a qual a Europa também exporta muito", analisa.

Para ele, a China em si não representa um perigo. "Não há nenhum sinal de que a China vai desacelerar por conta própria, já os EUA têm todo um ciclo que é preciso ver como vai acabar", disse. Ele acredita que os efeitos podem ser maiores ou menores conforme a economia americana conseguir reagir. "Há os que estão preocupados com os dados do mercado imobiliário e com a possibilidade de isso começar a reduzir o consumo e há os que acreditam numa capacidade de reação rápida, pela flexibilidade da economia americana. Cada um tem que escolher seu cenário", argumenta.