Título: Para setor de infra-estrutura, PAC não atingirá 40% da meta
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2007, Brasil, p. A3

A indústria da infra-estrutura mantém uma posição conservadora em relação aos resultados do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que inclui investimentos em áreas como energia e logística. A expectativa de 25 empresários ligados à Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), cujos setores têm peso na economia, é de que o PAC dificilmente atingirá 40% das metas previstas. Lançado em janeiro, o programa prevê R$ 503,9 bilhões em investimentos entre 2007 e 2010.

José Luiz Alquéres, vice-presidente da Abidb, disse que empresários de diferentes segmentos ligados à entidade fizeram uma avaliação dos projetos do PAC. Eles analisaram aqueles com chances de serem realizados no período previsto. "Cada um avaliou a lista de projetos em sua área e estimou o que pode ou não ser realizado. Assim chegamos aos 40%, que são uma expectativa", disse Alquéres ao participar, ontem, do seminário "Cenários da economia brasileira e mundial em 2007", promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com apoio do Valor.

Presente ao evento, Ariel Pares, secretário de Planejamento e Investimento Estratégico do Ministério do Planejamento, disse que o percentual demonstra pessimismo em relação à capacidade organizacional do governo. Pares afirmou que no Projeto Piloto de Investimentos (PPI) o governo tinha previsto gastar R$ 6 bilhões em 2005 e 2006 e gastou cerca de R$ 5 bilhões. "A eficiência foi acima de 80%", comparou.

Pares reconheceu que para executar o PPI de 2007, de R$ 11,3 bilhões, o governo terá um trabalho árduo. "O mais difícil é gastar", ponderou. Ele aproveitou para descartar o risco de apagão no setor elétrico em 2008-2009. "Estamos trabalhando para reduzir os riscos de falta de energia após 2010. Não vejo razão para haver crescimento menor que 5% (do Produto Interno Bruto, PIB) por falta de energia", disse Pares.

Alquéres avaliou que a baixa expectativa dos empresários da Abdib em relação aos resultados do PAC vincula-se ao fato de que muitos investimentos não têm projetos executivos prontos. Ele reconheceu a importância de o governo voltar a ter com o PAC um plano consolidado. "Desde o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento, lançado no governo Geisel), não aparece nada tão arrumado", elogiou Alquéres.

O executivo, que preside a distribuidora de energia carioca Light, também se mostrou conservador em relação às ações do PAC na área de energia elétrica. Ele afirmou que o programa do governo prevê investimentos médios de US$ 10 bilhões por ano em energia elétrica. "O setor privado está satisfeito com o número, mas cético quanto à capacidade de que ele venha a ser realizado", disse Alquéres. Na apresentação, ele defendeu que é importante que o PAC encare de frente a necessidade de reduzir a carga tributária sobre o setor de energia elétrica.

A medida, que passa pela redução de impostos federais sobre a cadeia de produção de equipamentos, turbinas e geradores, representaria, segundo Alquéres, 15% de abatimento sobre o custo de produção da energia elétrica. O executivo afirmou que também seria preciso mexer no ICMS sobre a energia, que é "alto" e tem alíquotas diferenciadas nos Estados. No Rio, a Light arrecada R$ 7,5 bilhões por ano e paga R$ 3 bilhões em encargos, disse Alquéres. Ele avaliou que a redução de impostos é importante para reduzir o custo de novos projetos de geração, como as usinas do Rio Madeira, ainda a serem licitadas.

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), avaliou que matriz energética brasileira está ficando mais cara e suja porque os maiores volumes de energia nos leilões são de fontes térmicas. "O cenário é preocupante, inclusive porque não haverá gás natural para acionar todas as térmicas. Vamos andar na ponta da faca torcendo para chover e para o país não crescer. Se crescer, o país corre o risco de ter uma crise de energia elétrica", previu Pires. Segundo ele, com um crescimento de 4% do PIB ao ano poderá haver déficit de energia em 2010.