Título: Acordo deve acalmar mercados, diz vice-presidente do BC europeu
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2013, Finanças, p. C14

O acordo sobre políticas monetárias alcançado pelos paises desenvolvidos e emergentes no G-20 inclui falar menos sobre taxa de câmbio, disse o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vitor Constancio, em entrevista ao Valor em Moscou após o encontro de ministros de finanças. Para Constancio, a volatilidade nos mercados deve diminuir depois da reunião, com a disciplina a que todos os paises se comprometeram a respeitar. Sobre a crise que enfrenta a zona do euro, ele afirmou que houve uma grande melhoria na avaliação dos mercados, mas ainda há uma situação de fraco crescimento que se verificará neste ano. "Nunca se pode dizer que tudo acabou", disse. A seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: Qual o impacto do comunicado do G-20 sobre a chamada guerra cambial?

Vitor Constancio - O comunicado final é bastante claro em reafirmar as doutrinas do G-20 e deve nesse sentido contribuir para acalmar não só os mercados como tambem a retórica sobre essa questão. Penso que a volatilidade diminuirá depois desta reunião, com a disciplina a que todos os paises se comprometeram a respeitar. Primeiro, de que taxa de cambio não pode ser um objetivo das políticas monetária e fiscal e devem dirigir-se a apenas a objetivos domésticos, e segundo, de que devem evitar declarações que possam provocar movimentos abruptos e desordenados nas taxas de câmbio.

Valor: Ou seja, a volatilidade das moedas pode ser reduzida?

Constancio - Penso que sim. Como o presidente Mario Draghi (do BCE) disse, falar muito sobre taxas de cambio acaba sendo contraproducente e não ajuda ninguém. Em particular para as moedas sujeitas a regime de flutuação, as regras são de que as políticas monetárias e fiscais devem dirigir-se a objetivos domésticos. Insisto, isso significa tambem que não se deve comentar o nível corrente das taxas de câmbio no mercado, porque para moedas que flutuam é o mercado determina a taxa. E deve-se evitar evidentemente que existam movimentos abruptos, desordenados, mantendo uma volatilidade que não seja excessiva.

Valor: Outros paises do G-20 entendem a situação de emergentes sofrendo a pressão sobre a moeda?

Constancio - Com certeza que compreendem e um dos pontos do comunicado final é precisamente que as políticas monetárias devem minimizar os efeitos externos que podem ter. Os paises tem que estar atentos e comportar-se de forma a evitar esses efeitos externos.

Valor: Os países da zona do euro saíram da crise?

Constancio - Nunca se pode dizer que tudo acabou. Há uma grande melhoria da situação, como na avaliação dos mercados e na melhoria dos mercados monetário e financeiro, uma clara redução da fragmentação dentro da área do euro, mas há ainda uma situação de fraco crescimento que se verificará este ano, apenas com começo da recuperação que virá mais na parte final do ano. Existem muitos desafios e não se pode abrandar o ritmo das reformas que contribuíram para a melhoria dessa situação.

Valor: O fluxo do crédito continua baixíssimo na Europa...

Constancio - Sim, mas há países que estão em fase de ajustamento e em recessão. A procura de crédito, portanto, não é dinâmica neste momento.

Valor: Quando a união bancária vai ser implementada?

Constancio - Esperamos que o regulamento que cria o supervisor europeu seja aprovado até o fim de março, e que comecemos a exercer essa função de supervisão dos bancos na Europa no próximo ano. São todos os bancos, mais de cinco mil bancos, mas evidentemente os maiores serão diretamente supervisionados a partir do centro, todos sob nossa responsabilidade.

Valor: Com a união bancária, quebra-se de fato o circulo vicioso entre divida soberana e divida bancária na região?

Constancio - É um elemento muito importante para acabar com esse circulo vicioso. Outro é tambem o de assegurar a recapitalização direta de bancos por fundos europeus. Isso é muito importante para o objetivo.

Valor: Quando se pode esperar o início do desmonte das grandes políticas monetárias expansionistas?

Constancio - Isso acontecerá quando houver clara recuperação economica nos diferentes paises. É inevitável que nessa altura os bancos centrais comecem estratégias de saída das atuais políticas não convencionais.

Valor: Vai demorar ainda?

Constancio - Um pouco, sim.