Título: G-20 faz pacto e abafa guerra cambial
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2013, Finanças, p. C14

As "antigas e novas potências" econômicas que formam o G-20, na expressão de um ministro europeu, tentaram abafar a chamada guerra cambial ao mesmo tempo em que não conseguiram superar a divergência sobre estratégias de retomada do crescimento.

Reunidos em Moscou, os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais dos países que representam 90% do PIB mundial e 80% do comércio global estimaram que os riscos "mais extremos" que pesavam sobre a economia se reduziram com medidas adotadas na Europa, nos Estados Unidos, Japão e a resistência da economia chinesa. Mas alertaram que "riscos importantes persistem e que o crescimento mundial é ainda muito fraco, com um desemprego inaceitavelmente elevado".

Nesse cenário, os paises desenvolvidos procuraram sufocar a retórica de guerra cambial provocada pelas políticas monetárias extremamente expansivas. Os emergentes aceitaram não brigar. Todos se comprometeram a não proceder desvalorizações competitivas e a não fixar "metas de taxa de cambio para fins de competitividade".

O comunicado do G-20, que reflete modestamente as discussões ocorridas entre os ministros, também retoma o que já havia dito em outras reuniões, como, por exemplo, que "a política monetária deve visar a estabilidade de preços domésticos e continuar a sustentar a recuperação economica".

Para dar uma satisfação aos emergentes que se sentem afetados por políticas monetárias expansionistas de países desenvolvidos, o G-20 remeteu a discussão para o FMI examinar a questão de liquidez internacional e as consequências sobre as taxas de cambio.

Mas para Pier Paduan, economista-chefe da OCDE, as taxas de cambio estão "mais ou menos em linha com os fundamentos de longo prazo" dos países. E as economias que adotaram flexibilização monetária forte foram motivadas pela demanda fraca e pouco espaço fiscal.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou-se satisfeito com a discussão no G-20. Mas foi tambem o mais explicito em Moscou sobre o persistente risco da guerra cambial. Para ele, esse problema nada mais é que a outra faceta da falta de mercados e de dificuldade de exportações.

"Há um conflito originado pela falta de demanda mundial que leva os países a terem conflitos. Num ano em que o comércio cresce quase zero, tem um grande problema e os países se passam a se acotovelar para exportar. Mesmo em situações normais, há conflitos comerciais, mas eram atenuados porque havia espaço para todos", afirmou.

Agora, acrescentou Mantega, "estamos diante dessa situação que é exacerbada pelo fato de a estratégia europeia de fazer ajuste fiscal ter como saída a exportação. Os paises que não conseguem estimular a economia acham que a saída é exportar. Se todo mundo chegar a essa conclusão, imagina o que acontecerá, é um conflito de todos contra todos".

Mas o racha no G-20 persistiu. A Alemanha isolada insiste na importância da austeridade, estimando que isso gera confiança nos mercados. De outro lado, os EUA, União Europeia, Brasil pedem combinação de rigor fiscal com estímulos. "Essa diferença não foi superada", disse Mantega. A Alemanha não conseguiu acordo para fixação de novas metas de corte de deficit e de divida. Já alguns países, como a França, entenderam que o ritmo da consolidação fiscal pode ser adaptado.