Título: Temer e Jobim trocam farpas e acirram disputa pela presidência do PMDB
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2007, Política, p. A9

A seis dias da eleição do novo presidente do PMDB, o confronto ficou ontem mais acirrado entre o atual dirigente, deputado Michel Temer (SP), e o desafiante Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois trocaram críticas em entrevistas no Congresso Nacional. A eleição será no domingo, em convenção nacional a se realizar em Brasília.

Aliados de Temer - presidente do PMDB há cinco anos e meio - apresentaram à Executiva Nacional do partido recurso impugnando a chapa adversária, por descumprimento de exigências estatutárias. Jobim reagiu dizendo que "quem protesta está perdendo". Em resposta, Temer afirmou que, se a decisão fosse legal, a chapa estaria cassada. Mas, para não demonstrar fragilidade, decidiu tratar da questão "politicamente", dando prazo para Jobim "sanar as irregularidades".

O estatuto do partido determina que os candidatos apresentem chapas completas até oito dias antes da eleição. Cada chapa precisa ter 119 nomes - para ocupar todos os cargos do diretório nacional. O principal problema da chapa de Jobim é um nome repetido - o de José Luciano Barbosa, de Alagoas. Isso significa que a chapa foi registrada incompleta.

Além disso, há nomes de deputados que aparecem nas chapas dos dois candidatos. E apenas Temer tem a autorização deles, como Wilson Braga, José Gerardo e Valdimir Costa.

O ex-ministro do Supremo minimizou os problemas. "Há equívocos que podem ser sanados até 48 horas antes da eleição", disse. Temer contestou. "Nesse prazo é permitido substituir nomes, mas, nesse caso, a lista veio incompleta. Isso é inaceitável", afirmou.

Mesmo assim, Temer disse que permitirá a correção da relação apresentada por Jobim. Quer ganhar no voto, diz. Afirmou também que evitará uma briga jurídica, evitando que seus aliados levem o recurso até o Judiciário. "Temos maioria para ganhar no voto", afirmou o ex-ministro Eunício Guimarães (PMDB-CE), apoiador do atual presidente.

A campanha de Jobim enfrenta outros problemas. O ex-governador Joaquim Roriz (PMDB-DF), cujo nome consta da chapa de Jobim e no manifesto divulgado ontem apoiando sua candidatura, negou publicamente que apóie qualquer um dos dois candidatos.

"Sou contra a disputa. Ela vai enfraquecer o partido, quando estamos em um processo de crescimento. Não entro em chapa nenhuma", afirmou a jornalistas, repetindo o que acabara de dizer ao próprio Jobim, em encontro no salão do Senado destinado ao cafezinho dos senadores.

Minutos antes, no Salão Verde da Câmara dos Deputados, o gaúcho havia dado entrevista, na qual negou a possibilidade de renúncia, defendeu a unidade do partido e fez críticas à gestão de Temer. "Por que o PMDB não tem unidade nacional? As unidades do PMDB se dão em nível regional, nos Estados. Não tem unidade nacional porque não tem programa. Como não tem programa, as unidades se dão através das relações entre as pessoas, de troca de favores, de troca de vantagens", afirmou.

Estranhamente, o manifesto divulgado a seu favor tinha, na lista de 30 deputados, um pefelista: Cristiano Mateus (PFL-AL). Até aliados de Jobim criticavam o "amadorismo" da campanha.

No intitulado "Manifesto da Unidade", aliados de Jobim defendem a renovação do PMDB e a motivação da militância, "hoje desmobilizada e abandonada". A reação de Temer foi irônica. "Ele ficou 10, 12 anos afastado do PMDB. Não acompanhou a vida ativa do partido", disse. "Mas o Jobim pode dar uma grande colaboração ao nosso partido. Tem predicados para isso. Essa sua reinserção vai permitir que ele conheça por inteiro o nosso PMDB."

Os dois candidatos defendem candidatura própria a presidente da República em 2010. Apoiado pelos senadores José Sarney (AP), e Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, Jobim nega que o PMDB se tornaria mais governista sob seu comando. "O PMDB decidiu apoiar o governo. Terá uma relação transparente, em cima de regras, programas, e não meramente por uma troca de cargos", disse.

Entre senadores que apóiam Jobim, a avaliação feita ontem era que o gaúcho não soube desvincular sua candidatura de Sarney e Renan. Não soube aproveitar o fato de também ser apoiado por pemedebistas históricos, como Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). Também consideraram erro estratégico o encontro com senadores no cafezinho do Senado, quando deveria buscar aproximação com a Câmara dos Deputados, onde Temer tem vínculos fortes.