Título: Bolívia estatiza empresa espanhola de aeroportos
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Fonte: Valor Econômico, 19/02/2013, Internacional, p. A11
O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou ontem a estatização da empresa que controla os três aeroportos internacionais do país, que era controlada pelas empresas espanholas Abertis e Arena. Esta foi a terceira expropriação em menos de meses de ativos de empresas da Espanha, que afirmou que revisará suas relações com o país sul-americano.
Morales fez o anúncio em ato transmitido pela TV estatal direto da cidade de Cochabamba, onde fica a sede da Sabsa (Serviços de Aeroportos Bolivianos). Ele alegou que os espanhóis não cumpriram os investimentos previstos para os aeroportos internacionais de El Alto (La Paz), Jorge Wilsterman (Cochabamba) e Viru Viru (Santa Cruz) e ordenou a sua ocupação por militares.
Em seu discurso, Morales explicou que o programa de investimentos entre 2006 e 2022 previa um montante de US$ 53,4 milhões, dos quais US$ 26,9 milhões deveriam ter sido feitos até 2009. Segundo o presidente, no entanto, a cifra não chegou a US$ 6 milhões até esse prazo.
Morales já havia estatizado em dezembro duas distribuidoras de eletricidade, uma empresa de serviços e uma gestora de investimentos operadas pela espanhola Iberdrola no país. Em maio de 2012, ele havia expropriado a empresa Transportadora de Eleticidad, filial da Red Eléctrica, também da Espanha.
O anúncio irritou o governo espanhol, que afirmou que revisará suas relações com a Bolívia. O ministro das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, disse que "mobilizará os sócios da União Europeia para dar uma resposta à decisão do Executivo boliviano", informou o jornal espanhol "El País". Em nota, ele afirmou que a expropriação supõe um "ato hostil" que "terá consequências".
Os sindicatos, no entanto, partiram em defesa de Morales. A Central Obrera da Bolívia (COB), principal central sindical do país, agradeceu o "apoio decidido" do governo aos trabalhadores, alegando que a falta de investimentos da Sabsa havia causado danos econômicos ao Estado. E apontou ainda o "enriquecimento ilícito" de executivos da empresa, segundo o jornal boliviano Página Siete. O "El País" citou o caso de um funcionário da empresa que recebeu um salário de € 12.700, "oito vezes mais que o do presidente Morales". Segundo o jornal, a Sabsa tem US$ 10 milhões em dívidas trabalhistas, e vem perdendo batalhas na Justiça contra os trabalhadores.