Título: Templeton aposta no Brasil
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2007, EU & Investimentos, p. D1

Uma das maiores gestoras de recursos do mundo, com US$ 560 bilhões sob seus cuidados, US$ 32 bilhões dos quais em fundos dedicados a países emergentes, a americana Franklin Templeton inaugura oficialmente hoje sua subsidiária no Brasil. O objetivo, segundo Vijay Advani, vice-presidente executivo e responsável pela área de distribuição global, é aproveitar as oportunidades que o crescimento do mercado brasileiro vai criar nos próximos anos, com o aprofundamento da reforma da previdência e com a expansão econômica e dos investimentos da população. A gestora já tem operações locais no Canadá, na Índia, na Coréia e no Japão e uma parceria na China e escolheu o Brasil para sua primeira operação local na América Latina. Hoje, a Templeton investe no Brasil cerca de US$ 6 bilhões em ações e renda fixa.

A Franklin Templeton Investimentos Brasil começa com dois fundos de ações, mas deve lançar até junho dois multimercados com ações, um deles alavancado, explica Heitor de Souza Lima, diretor responsável pela gestora. Segundo Advani, hoje 50% das captações da Franklin Templeton vêm de fora dos Estados Unidos. Ele lembra que 54% das famílias americanas investem em fundos, percentual que cai para 15% a 30% fora dos EUA.

Na Ásia, o negócio de gestão está sendo impulsionado pelo crescimento das economias, que leva ao aumento da classe média e da capacidade de poupança do país. Há também a reforma dos sistemas previdenciários da região, que deve trazer a criação de fundos de pensão e essas carteiras demandarão serviços de gestão. "China e Índia têm grandes populações e elevadas taxas de poupança e isso é que guia nosso negócio", diz.

Já na Europa, o crescimento na área de gestão de recursos deve se dar pela tendência de os bancos reforçarem a chamada arquitetura aberta, oferecendo fundos de outras instituições aos clientes. O processo, diz Advani, é semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos, onde o Citibank chegou a vender sua área de administração de fundos para a Legg Mason. Ainda na Europa, o crescimento dos países do Leste Europeu, que incluirá uma grande população com alto nível educacional no mercado de trabalho, representa outra oportunidade. "Queremos que sejam nossos clientes no longo prazo" diz.

Na América Latina, o mercado de gestão acaba limitado pela histórica concentração de renda. Os muito ricos colocam suas aplicações em Miami ou na Suíça e o restante da população não tem muito o que investir, diz. Mas, nos últimos anos, o crescimento da região permitiu um aumento da classe média desses países, especialmente no México, Brasil e Argentina, e isso permitiu um aumento das taxas de poupança. "No Brasil, essa taxa chega a 25%", afirma Advani, lembrando ainda que houve uma clara mudança com as reformas da previdência e o crescimento dos fundos privados de pensão, os PGBLs e VGBLs. "E isso nos anima a investir aqui", diz.

Além desse cenário macro, Advani lembra que a Templeton está no Brasil desde meados dos anos 1990, por meio de uma parceria com o Bradesco. "E antes mesmo já fazíamos investimentos aqui com mandatos de fundos globais", afirma. Uma vez que a empresa já conhece o país e suas companhias, faz sentido montar uma operação local.

A Franklin Templeton quer trazer para o Brasil os padrões globais de gestão de recursos desenvolvidos em quase 60 anos de experiência, afirma Advani. O primeiro fundo global da gestora surgiu nos anos 1950 e sua participação nos mercados emergentes ganhou relevância a partir dos anos 70 com o trabalho de Mark Mobius, reconhecido como um dos principais estrategistas para economias em desenvolvimento. Ele é responsável pelos US$ 32 bilhões investidos em emergentes pela Templeton.

"Temos nossa proposta de distribuição global pelo mundo, mas agora estamos dando um passo adiante em alguns países importantes como o Brasil, que tem uma grande população e capacidade de poupança", afirma Advani. "E queremos ter uma lista completa de opções para o investidor, por isso vamos lançar um multimercado em breve, talvez em abril", diz. O executivo afirma não estar preocupado com o baixo crescimento do Brasil nos últimos anos, que o colocou na lanterna dos BRICs, abreviação de Brasil, Rússia, Índia e China, países vistos com maior potencial entre os emergentes. "Nosso investimento é de longo prazo e o que importa é que o Brasil está no caminho certo, fazendo as reformas que precisa, e isso é suficiente para nós".

Mesmo a turbulência recente dos mercados internacionais iniciada semana passada na China não preocupa Advani. "Não estamos aqui por alguns meses ou por modismo, estamos aqui para fica 10, 30 anos, por isso um movimento de alta ou baixa do mercado não interfere em nossa decisão", diz.

Hoje as operações locais da Franklin Templeton giram US$ 51 bilhões, sendo US$ 35 bilhões no Canadá, US$ 6 bilhões na Índia, US$ 4 bilhões na Coréia e R$ 6 bilhões no Japão. No Brasil, a gestora começa com US$ 150 milhões. "É pouco, mas isso não nos preocupa, na Índia, de 1995 a 2000, tínhamos US$ 100 milhões de patrimônio e hoje temos R$ 6 bilhões", afirma Advani.

Nos planos da gestora está também trazer para o Brasil a Franklin Templeton Learning Academy, uma escola virtual voltada para consultores e executivos. "Achamos importante educar o investidor por meio desses parceiros sobre como planejar a aposentadoria ou controlar os riscos de suas carteiras", afirma. Ele explica que a Franklin Templeton Brasil não oferecerá diretamente fundos para o investidor. "Vamos distribuí-los via private banks, family offices ou via fundos de pensão", afirma Heitor de Souza Lima. Segundo ele, já há conversas com duas instituições.

Lima acredita que, à medida que os juros caírem, deve aumentar a procura por renda variável, tanto por parte de fundos de pensão quanto de pessoas físicas. Lima espera ampliar a atual equipe local de nove para 17 pessoas, sendo seis voltadas para a gestão.

Segundo Advani, a tendência de arquitetura aberta para os investidores de varejo - os clientes private já têm acesso a esse serviço - deve crescer também no Brasil. Ele lembra que, na Coréia, a gestora local começou com apenas um distribuidor. "Hoje, temos 30 instituições, praticamente todos os bancos da Coréia distribuindo nossos fundos." Na opinião dele, os investidores querem ter escolha e esse processo de abertura deve se acentuar, como ocorreu nos Estados Unidos.