Título: China derruba preços de metais e petróleo
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2007, Empresas, p. B11

Bastou a China espirrar para que as commodities mais importantes do mundo pegassem uma pneumonia. Depois que a bolsa chinesa de Xangai acumulou uma perda de 8,4% entre 26 de fevereiro e 5 de março, transformando em pó US$ 1,5 trilhão no que diz respeito ao valor de ações, a tonelada do cobre, zinco, alumínio, níquel, o barril de petróleo e a onça-troy do ouro não sustentaram suas cotações em alta, registradas nos primeiros meses de 2007, e despencaram nas bolsas em que são negociadas.

A tonelada do zinco foi a commodity que mais sentiu o impacto. Acumulou queda de 10,12% em uma semana. Depois, aparece a onça-troy do ouro, com redução de 7,15%. O cobre registrou diminuição de 6,98%, enquanto o alumínio acumulou queda de 6,78% no período. Já o níquel e o petróleo negociado tanto em Nova York, como em Londres, tiveram as menores perdas. Respectivamente: 3,65%, 2,15% e 1,29%.

"Esse choque que experimentamos uma semana atrás na China abriu o vespeiro", disse Sean Corrigan, estrategista-chefe de investimentos da Diapason Commodities Management de Lausanne, na Suíça. Para Corrigan, o risco é que o próprio mercado financeiro atinja a economia real. "Sem dúvida, as commodities estão vulneráveis a uma desaceleração", diz o estrategista-chefe.

O curioso de tamanha queda é que o petróleo não refletiu de imediato as perdas nas bolsas. Somente na sexta-feira e ontem, a commodity assumiu um viés de baixa, perdendo valor em dois pregões consecutivos. Tanto que o barril para abril deste ano do tipo WTI foi vendido ontem a US$ 60,07 na Bolsa Mercantil de Nova York, queda de US$ 1,57. Já a commodity do tipo Brent também para abril negociada na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres assistiu a uma redução de US$ 1,54 ontem, fechando em US$ 60,54.

"O petróleo não registrou a queda inicial das bolsas, porque é uma commodity atípica. Este produto tem uma sensibilidade diferente e seu preço é definido, levando em consideração vários fatores, não só de oferta e demanda. Afinal, ninguém faz intervenção militar por um produto como níquel ou algodão", afirma David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e atual presidente da consultoria DZ.

O economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), vai na mesa direção. E acrescenta que a queda acentuada de ontem do petróleo já é sinal de que a commodity começa a registrar o desequilíbrio dos mercados mundiais.

-------------------------------------------------------------------------------- Bolsa de Valores chinesa de Xangai já acumula queda de 8,4% entre os dias 26 de fevereiro e 5 de março --------------------------------------------------------------------------------

Para os analistas, a queda da bolsa chinesa sinaliza que poderá haver um desaquecimento global da economia e isso diminuiria o consumo por petróleo. Além disso, há o receio de que a economia americana possa entrar em recessão.

Portanto, o entendimento é que os dois principais mercados consumidores diminuiriam a demanda pelo produto, o que aumentaria a disponibilidade da commodity. Os Estados Unidos são o maior consumidor de petróleo do mundo, com 22 milhões de barris por dia, e a China ocupa a segunda posição, com 6 milhões de barris por dia. "Além disso, os chineses importam todo a sua demanda", acrescenta um analista ao Valor que preferiu o anonimato.

Alguns analistas chamam a atenção também para a divulgação dos estoques nos Estados Unidos, que acontece durante esta semana. A expectativa é que haja um incremento, reduzindo a necessidade de compra do petróleo. Há quem estime um acréscimo de 2,03 milhões de barris. Atualmente, os estoques americanos estão em um patamar de 329 milhões de barris.

Outro fator que colabora para essa desvalorização é a postura da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O cartel, que responde por 40% do consumo global, dá sinais de que manterá inalterado seu ritmo de produção até o próximo encontro, marcado para 15 de março deste ano. Desde o fim do ano passado para cá, a entidade já fez um corte produtivo de 1,7 milhão de barris.

"Aparentemente, o Irã e seu projeto de enriquecimento nuclear também caminham para alguma solução, o que tira pressão do preço do petróleo no mercado internacional", afirma Adriano Pires. O Irã é o segundo maior produtor da Opep e o quarto do mundo.

Autoridades iranianas têm dito que a única via para que se estabeleça algum tipo de acordo é a negociação. Os Estados Unidos acusam o Irã de construir um programa de armas nucleares, ao passo que o país islâmico reitera que seu projeto é legal e tem como fim a geração de energia.

Os membros do conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) informaram que têm feito algum progresso na formatação de sanções contra o Irã, caso o país leve adiante seu programa nuclear. Mas não há medida aprovada (com agências internacionais)