Título: Conglomerado turco faz estudos para fabricar ônibus na Bahia
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 06/03/2007, Empresas, p. B1

A Sabanci, maior conglomerado empresarial da Turquia, está mapeando o mercado brasileiro para instalar no país uma fábrica da Temsa, braço do grupo dedicado à fabricação de ônibus. A prioridade será dada para a região de Camaçari, na Bahia, onde está atualmente a Kordsa Brasil, fabricante de fios e tecidos industriais utilizados na fabricação de pneus. A Kordsa é, atualmente, a única operação da holding turca no Brasil.

Güler Sabanci, executiva que comanda o grupo fundado em 1967, diz que "olha com muita atenção" o mercado ligado à indústria automotiva na Bahia (que conta com a Ford, fábricas de pneus da Bridgestone, Continental e Pirelli, além de fornecedores). Segundo ela, uma equipe de trabalho tem avaliado as alternativas de operação na região do principal pólo industrial baiano.

A Kordsa Brasil, ex-joint venture com a DuPont, concluiu em 2006 o processo que a deixou 100% nas mãos da Sabanci. A executiva descartou a hipótese de instalar na região uma unidade da Lassa, sua fábrica própria de pneus. Na cadeia automotiva, portanto, a opção de investimento do grupo é a Temsa.

Güler Sabanci citou o caso do Egito como referência do que, no momento, imagina para ampliara presença no Brasil. Lá, a Sabanci começou em 1992 com uma operação da Kordsa, chamada Nile Kordsa. No início de 2007, ou 15 anos depois, foi lançada a pedra fundamental da Temsa Egypt, que deve começar a produzir em 2008.

"Mas, no Brasil, a espera certamente não será tão longa. Espero que, na próxima vez que eu vier para cá, seja para lançar uma pedra fundamental, como fizemos há pouco no Egito", disse Güler, com bom humor - a Sabanci firmou parceria com a DuPont em 1999. Embora exista o real interesse, ela ressalva que o investimento e os recursos ainda não foram definidos.

O chamado braço automotivo e de pneus do grupo, que inclui a Temsa, respondeu no ano passado por 17% de seu faturamento consolidado. A receita total da Sabanci em 2006 foi de cerca de US$ 12 bilhões. No fim de dezembro, a executiva declarou, em comunicado, que a expectativa é de que a receita consolidada em 2007 cresça 15%.

A holding turca tem negócios em setores díspares como o bancário, a indústria química, varejo - na Turquia tem uma joint venture com a francesa Carrefour -, siderurgia e energia. Para a maioria deles, o grupo planeja fortes investimentos nos próximos anos.

Na área de energia, por exemplo, estão previstos US$ 6,5 bilhões dentro de dez anos para que sua operação no segmento amplie a capacidade de geração e distribuição. A Sabanci briga ainda para ficar com uma fatia dos ativos oferecidos pelo programa de privatização do governo turco, que controla 85% do setor energético do país.

Por ora, a executiva descarta entrar no setor no Brasil, em projetos de etanol ou biodisel. "O Brasil está muito à frente dos outros países em bioenergia. Queremos estudar esse setor, mas dar prioridade à Turquia". As pesquisas têm sido feitas por técnicos da Sabanci University, universidade criada e mantida pelo grupo desde os anos 90.

O Akbank, segundo maior banco turco e controlado pela holding, vendeu em outubro do ano passado, por US$ 3,1 bilhões, uma fatia de 20% para o Citigroup. O grupo pretende usar parte do dinheiro para possíveis compras na área financeira, seja no mercado local ou exterior. A executiva não fez menção ao Brasil nesse campo.

Güler Sabanci é considerada a mulher mais importante no mundo dos negócios da Turquia. A holding que comanda tem 45 mil empregados - deverão passar de 50 mil neste ano -, 65 empresas e 10 joint ventures. Ela assumiu o posto 2004, com a morte de seu tio, Sakip Sabanci. Em vez de indicar seus dois irmãos ou mesmo os filhos, Sakip deixou explícito seu desejo de ser sucedido pela sobrinha.