Título: Varejo recua em dezembro e cresce no ano
Autor: Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2013, Brasil, p. A3

Após seis meses seguidos de altas, o volume de vendas do varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, surpreendeu economistas ao se descolar do forte desempenho observado em 2012, com queda de 0,5% entre novembro e dezembro, feito o ajuste sazonal, espalhada por cinco dos oito segmentos pesquisados pelo IBGE. O dado negativo, porém, foi interpretado como um ponto fora da curva e não acendeu preocupações sobre o nível de consumo.

Mesmo com o recuo no último mês do ano, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, mostrou avanço de 8,4% das vendas restritas no ano passado (em volume), reflexo do desemprego nas mínimas históricas, do aumento da renda e de desonerações fiscais que impulsionaram a demanda. Já o varejo ampliado, influenciado pelo último mês de IPI reduzido para automóveis, voltou a crescer em dezembro, com alta de 1,3% na passagem mensal, e encerrou 2012 com aumento de 8%. As vendas do setor de veículos, motos, partes e peças subiram 8,3% em dezembro. A partir de janeiro, as alíquotas entraram em recomposição gradual.

Mariana Hauer, do ABC Brasil, vê no salto mensal das vendas de veículos uma antecipação de demanda provocada pelo fim da desoneração fiscal, comportamento que não deve se repetir nos próximos meses. Segundo ela, o destaque da leitura de dezembro, no entanto, ficou por conta do ramo de hiper e supermercados, que representa quase metade das vendas restritas e encolheu 0,3% ante o mês anterior. A retração, diz ela, está relacionada à inflação dos alimentos, que marcou alta de 1% no IPCA de dezembro.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, aponta o recuo mensal de 15,5% no setor de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, que tem pouco peso na PMC, mas cuja evolução é ligada ao crédito. No ano, as vendas dessa parte do comércio cresceram 6,9%. "Esse dado sinaliza que o consumidor não quis tanto comprar bens de valores mais altos a crédito no Natal. As compras foram destinadas a produtos de menor valor, como vestuário", diz. No caso de móveis e eletrodomésticos, segmento que expandiu suas vendas em 2,4% entre novembro e dezembro, o último mês de IPI reduzido pode ter puxado o consumo, afirma Vale.

A despeito de um fim de ano que considerou ruim, o economista da MB avalia que a queda das vendas na passagem mensal não configura uma tendência para os próximos meses, já que o mercado de trabalho segue aquecido e os salários continuam sendo reajustados acima da inflação. A expectativa de Vale é que, com a retomada da atividade econômica e alguma redução dos níveis de inadimplência e endividamento, o varejo restrito cresça cerca de 10% em 2013.

Em 2012, mesmo com a desaceleração da economia, que deve ter crescido apenas 1%, as vendas do varejo se expandiram acima do ritmo de 6,7% observado em 2011. Naquele ano, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 2,7%, lembrou Reinaldo Pereira, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE. "O comércio, de certa forma, vem resistindo aos problemas da economia. Tanto que o setor de serviços, do qual o comércio faz parte, vem segurando o PIB", disse Pereira, que também viu a contração de dezembro como pontual.

Para Paulo Neves, economista da LCA Consultores, uma moderação no ritmo de crescimento da renda dos ocupados pode ter influenciado o resultado mais fraco do comércio no fim do ano. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também do IBGE, o rendimento médio real dos trabalhadores encolheu 0,9% entre novembro e dezembro. A alta anual ainda foi acentuada, de 3,2% em relação a igual mês de 2011, mas abaixo da alta de 5,3% observada em novembro, na mesma comparação.

Neves estima que, em 2013, a remuneração dos trabalhadores ainda avançará a um ritmo razoável e acima da inflação, mas menos do que em 2012, já que a correção do mínimo foi bem menor. Devido a esse movimento, e também à dificuldade de reduções adicionais na taxa de desemprego - a desocupação terminou 2012 em 5,5% - a LCA trabalha com alta mais modesta, de 6%, para as vendas do comércio restrito este ano. De qualquer modo, ele afirma que o cenário para o consumo é positivo e o ano deve mostrar menor discrepância no ritmo de crescimento dos setores