Título: Atividade pode esfriar aposta em alta dos juros
Autor: Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2013, Brasil, p. A3

Os sinais de que a atividade econômica continua a avançar de forma lenta, e de que a demanda também está perdendo fôlego, podem esfriar, em parte, as perspectivas de aumento da Selic, como passou a ser cogitado por agentes do mercado após declarações recentes de autoridades mostrando desconforto com a atual tendência para a inflação.

A indústria, após queda em novembro, ficou estável no último mês do ano passado, o que já dava indícios de que atividade no quarto trimestre continuou a se recuperar de forma bastante gradual. Já as vendas do varejo recuaram 0,5% em dezembro e o fraco resultado levou sete dos nove economistas consultados pelo Valor Data a revisar para baixo a projeção de avanço para o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) na passagem mensal.

A média das estimativas de nove consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data é de alta de 0,3% do índice entre novembro e dezembro, feitos os ajustes sazonais, resultado que, se confirmado, marcará desaceleração em relação à variação positiva de 0,4% do índice em novembro. O BC divulga hoje o resultado.

O desempenho do varejo, afirmam economistas, elevou o risco de que a velocidade da recuperação da economia volte a frustrar as expectativas no quarto trimestre, o que também diminui a probabilidade de que o BC dê início a um ciclo de aperto monetário no atual contexto, de frágil retomada.

O HSBC, por exemplo, reduziu sua estimativa para o IBC-Br após a publicação dos dados do comércio. De uma alta de 0,7%, o banco passou a projetar avanço de 0,2% do índice entre novembro e dezembro, feitos os ajustes sazonais. Segundo o economista Constantin Jancsó, essa alteração pode implicar crescimento entre 0,10 e 0,15 ponto porcentual menor em 2012. Jancsó optou, no entanto, por manter a estimativa de crescimento de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, já que a alteração está dentro da margem de erro considerada pela instituição.

Para o primeiro trimestre, o economista enxerga sinais de atividade em aceleração, mas lembra que as perspectivas não são exuberantes e que, com os sinais de enfraquecimento da demanda, a probabilidade de aumento de juros parece um pouco menor, ainda que as manifestações recentes de autoridades tenham aumentado o risco de que ocorra novo ciclo de aperto monetário. Por enquanto, o cenário considerado mais provável pelo HSBC é de estabilidade das condições monetárias ao longo deste ano.

Fernanda Consorte, economista do Santander, também continua a estimar estabilidade de juros, em 7,25% ao ano, ao longo de 2013. Para Fernanda, a retomada morna da economia joga "água fria" nas perspectivas de aumento da Selic, como passou a ser cogitado nas últimas semanas por parte do mercado. A economista acredita que o crescimento no quarto trimestre pode desacelerar em relação à alta de 0,6% observada no terceiro trimestre, colocando em xeque a percepção de que a economia brasileira está em recuperação gradual.

Fernanda considera que o desempenho dos indicadores referentes aos últimos três meses sugere que o crescimento no último trimestre de 2012 não foi de 0,8%, como esperado pelo banco, mas mais próximo de 0,5%. Nesse caso, o país terá encerrado o ano com alta do Produto Interno Bruto de 0,9% e não de 1%, projeção oficial do Santander para expansão do PIB.

Para Fernanda, o resultado do varejo foi ruim e indicou que o comércio está perdendo força, em um momento em que a expectativa era de aceleração da atividade econômica. O varejo, nota a economista, ainda é destaque de crescimento, com alta de 8,4% em 2012, "mas vemos perda de ímpeto, já que o desempenho ficou aquém das expectativas pelo segundo mês consecutivo".

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, tem avaliação distinta. Para ele, a queda de 0,5% das vendas no varejo restrito e a estabilidade da produção industrial entre novembro e dezembro indicam fôlego moderado para a atividade, mas os sinais são de aceleração mais firme no primeiro trimestre.

A projeção preliminar da LCA é de alta de 1,4% da produção industrial em janeiro, o que levaria o IBC-Br a avançar 0,7% no mesmo período. "Os indicadores coincidentes da indústria e do comércio mostram bom desempenho e a agricultura também favorecerá o PIB no primeiro trimestre", afirma.

Para o economista, a perspectiva de atividade mais forte no primeiro trimestre, rodando acima de 4% em termos anualizados, chancelaria aumento de juros pela autoridade monetária. O economista avalia, no entanto, que estão "contratadas" duas fontes de alívio para a inflação no segundo trimestre. A primeira é a deflação dos preços agropecuários no atacado observada no início do ano. A segunda é a valorização do real em relação ao dólar, de cerca de 7% desde o último trimestre de 2012. Em conjunto, esses dois elementos podem trazer uma surpresa positiva, o que pressionaria menos o BC a dar início a um ciclo de aperto das condições monetárias.