Título: China aumenta gastos militares em 18%
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Fonte: Valor Econômico, 05/03/2007, Internacional, p. A13

A China anunciou ontem que aumentará em 17,8% seu orçamento militar de 2007, a maior elevação dos últimos cinco anos. Os gastos atingirão o total de 350 bilhões de yuans (ou US$ 45 bilhões) e dotarão o maior exército do mundo de recursos mais modernos, num reflexo do avanço acelerado da economia do país. Os EUA reagiram imediatamente cobrando que a China demonstre transparência em seus gastos.

Os dois milhões de integrantes do Exército de Libertação do Povo terão aumento de salários. Os recursos também serão empregados para "modernizar" as forças do país em seu esforço de deter a pressão de Taiwan por independência. O anúncio foi feito por Jiang Enzhu, porta-voz do Congresso Nacional do Povo, que inicia hoje sua reunião anual.

"Deter a independência de Taiwan e manter a paz na ilha continua sendo a missão mais premente", porque especialistas chineses "consideram que a Taiwan seguirá pressionando por uma independência legal este ano", disse Jiang, em uma entrevista coletiva concedida em Pequim.

Os gastos militares da China vêm crescendo desde a década de 90, depois de muitos anos de orçamentos reduzidos mas, segundo Jiang, essa mudança não deve ser interpretada como ameaça a outras nações. "Nos últimos anos, a China vêm aumentando seus gastos com defesa baseada em seu desenvolvimento econômico", afirmou o porta-voz, acrescentando que Pequim não tem a intenção de "ingressar em uma corrida armamentista" nem de "constituir uma ameaça a nenhum país".

Mas esses argumentos não parecem tranqüilizar Washington, que tem criticado os orçamentos militares chineses como nebulosos. Índia e Japão, que também observam com a atenção os gastos, também já aumentaram seus orçamentos para defesa.

Ontem mesmo, o sub-secretário de Estado dos EUA, John Negroponte, disse que não é exatamente o aumento dos gastos chineses que preocupa o governo do presidente George W. Bush, mas a falta de transparência em relação às intenções de Pequim com esses aumentos. "Em relação aos gastos militares e à aquisição de vários equipamentos, penso que o que nos chama a atenção é a questão da transparência", disse ele em entrevista coletiva em Pequim.

Negroponte disse que o governo americano não se sente satisfeito com o nível de detalhes fornecidos pela China sobre suas forças armadas. No mês passado, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, declarou, durante giro pela Ásia, que o teste conduzido pela China em janeiro com um míssil anti-satélite e o aumento de gastos militares "não eram consistentes com os compromissos de Pequim com o aumento da paz".

Estima-se que o orçamento do exército chinês equivalha a 1,6% da economia do país em 2007. É menos que um décimo dos gastos militares dos EUA (US$ 401,7 bilhões ou 3,6% da economia americana), segundo dados apresentados por Jiang. Bush pediu ao Congresso US$ 481,1 bilhões para o próximo ano fiscal que se inicia em outubro.

O Reino Unido gasta US$ 48,8 bilhões (ou 2,6% do PIB) e o Japão, US$ 45,3 bilhões, afirmou o porta-voz chinês. Apesar das diferenças, um relatório estratégico de 2006 do Pentágono, sustenta que a China tem um "grande potencial" para competir militarmente com os EUA, o principal aliado de Taiwan.

"Os gastos reais da China em defesa são muito maiores, pelo menos três ou quatro vezes maiores do que os números oficiais divulgados", disse no ano passado Andrew Yang, secretário-geral do Conselho de Estudos de Políticas Avançadas da Taiwan, um grupo de pesquisa sediado em Taipei. A opinião é compartilhada por outros especialistas, que afirmam que boa parte dos recursos do orçamento militar é usado em desenvolvimento e compra de armamentos, programas e negócios secretos e em forças paramilitares - nada disse seria contabilizado nos documentos oficiais.

Em janeiro, a agência espacial chinesa destruiu com o míssil um satélite obsoleto do país. Nenhum país havia feito isso antes. Para Yang, o teste "demonstra que a precisão de longo alcance da China está ficando cada vez forte". O país também construiu um novo caça, com base num design russo e israelense e melhorou sistemas de computação para as forças. A marinha tem aumentado sua frota.

Jiang pinta um quadro diferente. "As forças militares da China precisam se modernizar: de um modo geral nossas defesas são fracas e nossos oficiais não são pagos adequadamente."