Título: FIDC ganha espaço e chega a R$ 20,8 bi
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2007, Finanças, p. C1

Ferramenta de captação que surgiu há apenas quatro anos no mercado de capitais brasileiro, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) vêm tendo desenvolvimento mais ágil do que outros como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e até mesmo os Fundos de Investimento em Participação (FIPs). Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na virada de 2006 para 2007 o estoque de FIDCs em atividade superou a cifra dos R$ 20,8 bilhões.

A evolução dos FIDCs tem sido rápida e, de acordo com as previsões dos estruturadores, a tendência é que o segmento continue crescendo, já que, desde o segundo semestre de 2006, os estrangeiros começaram a demonstrar interesse pelo produto. Segundo o superintendente de registros da CVM, Carlos Alberto Rebello, essa presença do capital estrangeiro começa a ser notada nos FIDCs apresentados à autarquia. "Já começamos a ver estrangeiros desenhando formas de acessar esses fundos, em algumas operações eles entram como único investidor", conta Rebello.

Zeca Oliveira, presidente da Mellon Serviços Financeiros, que administra vários FIDCs do mercado, conta que algumas dessas operações já surgem desde o ano passado. "Os investidores não residentes entram comprando todo o volume e o fundo já sai todo vendido", explica Oliveira.

Para o executivo, esse apetite dos estrangeiros deve estimular novos tipos de FIDCs no mercado. "Deve começar a ter espaço para fundos de créditos já em 'default', que lá fora são os chamados 'junk bonds'", acredita ele, que também vê espaço para FIDCs ligados ao setor de agronegócio.

Até aqui, segundo os agentes estruturadores, os principais investidores de FIDCs têm sido os chamados institucionais locais (fundos de pensão e de investimento e seguradoras). Mas o diretor da Rio Bravo, Marcelo Michaluá, diz que, de fato, os estrangeiros começam a demonstrar mais apetite pelos chamados ativos alternativos, como os FIDCs. "Temos notado que os hedge funds começam a ver esses ativos com interesse, principalmente porque, com a expectativa do grau de investimento, vai crescendo a aposta macro nos ativos brasileiros de modo geral", diz.

O primeiro FIDC foi registrado no mercado brasileiro em dezembro de 2002 e tinha lastro em créditos concedidos pelo BMG a servidores públicos, o que inspirou a primeira onda de fundos, que teve como base operações de crédito consignado e crédito direto ao consumidor (CDC). Entre os maiores FIDCs do mercado estão o da Cemig, o do Pão de Açúcar e o da BCSul Verax, este também lastreado em créditos de financiamentos.

O sócio-fundador da Integral Trust, Francisco Turra, diz que entre 30% e 35% dos FIDCs têm ainda essa característica. "São fundos com lastro em consignado ou outras operações financeiras semelhantes", diz ele. "Em seguida surgem as operações de empresas do setor elétrico. Companhias geradoras, distribuidoras ou integradas que utilizam o FIDC como forma de captar recursos", diz Turra.

De acordo com o executivo da Integral Trust, o FIDC acaba sendo muito vantajoso para algumas companhias porque é uma forma de antecipar receita sem contabilizar dívida no balanço. Pelas previsões dele, o crescimento em 2007 continua firme. "Em 2005 os FIDCs movimentaram cerca de R$ 8,5 bilhões em novos fundos, em 2006 foram estruturadas novas operações que levantaram R$ 14 bilhões em novos recursos, acredito que esse ano possam surgir novos produtos que movimentem cerca de R$ 20 bilhões", prevê Turra.

Desde o ano passado, a CVM passou a contabilizar os patrimônios líquidos ativos dos diversos tipos de fundo disponíveis no mercado como forma de captação de recursos para empresas ou projetos. Os FIPs, por exemplo, somam, conforme a CVM, R$ 8,93 bilhões, o que também demonstra que no último ano esse segmento cresceu bastante, uma vez que no fim de 2005 a estimativa do setor era a de que os FIPs concentravam cerca de R$ 5 bilhões em recursos. Já o total de recursos alocados em Fundos Imobiliários (FIIs) em atividade hoje é de cerca de R$ 2,84 bilhões.