Título: Brasil volta a pedir maior poder de voto
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2007, Finanças, p. C9

A reunião de dois dias do G20 - grupo que representa os países mais industrializados do mundo nos organismos multilaterais -, sexta e sábado da semana passada no Rio de Janeiro, teve como principal saldo reforçar as posições dos países que, como o Brasil, reivindicam aumento das suas cotas e conseqüentemente dos votos na assembléia do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Uma saída vai ter que ser encontrada para contemplar os países que não foram beneficiados na primeira rodada (de revisão das cotas). Isso ficou muito claro", disse ao Valor um dos participantes do encontro.

A reunião teve caráter técnico e informal e, por isso, foi decidido que nenhuma comunicado seria feito, até porque nenhuma discussão teve caráter conclusivo. Mesmo assim, pelo menos dois outros pontos além do problema das cotas ganharam destaque. Um deles foi o avanço na criação de uma nova linha para substituir a Linha de Crédito Contingente (CCL, na sigla em inglês), o mecanismo de socorro automático criado após a crise brasileira de 1999, que não chegou a despertar o interesse dos países potencialmente elegíveis para contratá-la.

O mecanismo alternativo que está sendo desenhado é uma linha de reforço das reservas internacionais, batizada de "Reserve Augmentation Line". Sem dar detalhes sobre o desenho dessa nova linha, o participante da reunião do Rio ouvido pelo Valor disse que a proposta "amadureceu muito", embora ainda não se tenha chegado a um arcabouço definitivo de proposta. Já a idéia de mudar as regras de monitoramento pelo FMI das economias dos países membros, permitindo que a instituição divulgue recomendações de políticas cambiais, sem anuência prévia do país interessado, não teria apresentado avanços significativos.

Um destaque na reunião do G20 foi a discussão do que será necessário mudar na estrutura do Banco Mundial (Bird) para reforçar sua posição como provedor global de financiamentos para investimentos do setor público em serviços de infra-estrutura. O desafio é tornar as linhas do Bird mais atraentes para países de renda média e, ao mesmo tempo, aumentar sua capacidade de financiamento, seja pela via da redução de custos não-financeiros seja pela de ampliação direta do seu "funding".

A questão do aumento das cotas pode ser decidida até a reunião do FMI na primavera de 2008. Mas já deve dominar a reunião da primavera deste ano e o encontro anual da instituição em setembro. No ano passado, China, México, Turquia e Coréia do Sul foram contemplados com aumentos das suas cotas. O Brasil, hoje com 1,39% dos votos, e a Índia (1,89%) estão entre os que reivindicam maior representatividade. A dificuldade para que isso ocorra é que o aumento da cota de um necessariamente significa a redução da de outro.

O G20 terá ainda este mês, na África do Sul - país que detém atualmente a presidência itinerante do grupo (o próximo é o Brasil) -, uma reunião formal de ministros, quando os temas discutidos agora no Rio serão debatidos em caráter formal, utilizando os subsídios acumulados em reuniões como a do final de semana passado.

Realizada em um hotel de frente para a praia de Copacabana (zona sul), o evento foi brindado com dois dias típicos de verão carioca. Na parte final, contou com a presença do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e foi encerrado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como anfitrião.