Título: Tombini indica alta modesta do juro
Autor: Ribeiro, Alex; Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2013, Finanças, p. C1

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não esperou a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), daqui a duas semanas, para deixar aberta a porta de uma alta moderada na taxa básica de juros (Selic).

Ontem, em solenidade pública na sede do BC, ele reiterou palavras ditas recentemente e, em cinco frases, deu novas senhas: "Gostaria de deixar bem claro que não existe hoje no país risco de descontrole da inflação"; "O Banco Central tem comunicado sua estratégia, que permanece válida neste momento"; "Isso evidentemente não significa que os ciclos monetários foram abolidos"; "Quando necessário, se ensejado pelo cenário prospectivo para a inflação, a postura do Banco Central em relação à política monetária será adequadamente ajustada". E, no fim do pronunciamento, deixou pistas sobre a intensidade que teria esse eventual novo ciclo de aperto monetário: "Nesse novo ambiente macroeconômico há pouco descrito, a taxa Selic oscilará em patamares mais baixos que no passado". Se houver aumento da Selic, portanto, ele deve ser comedido.

Tombini não usou a expressão "viés de alta" - linguagem adotada no passado - mas ela descreveria bem a opção de alta de juros comprada pelo presidente do BC. De um lado ele reiterou que a estratégia que consta da última ata do Copom, de estabilidade das taxas, continua válida. Mas de outro, indicou a disposição de mudar a direção caso seja necessário.

O viés de alta é um mecanismo, adotado nos primeiros anos do regime de metas de inflação, em que o Copom dá ao presidente do BC o poder de alterar a taxa de juros entre uma reunião e outra, no caso de uma esperada mudança de cenário.

Em outra parte do seu discurso, o presidente do BC disse que, depois dos avanços macroeconômicos ocorridos nos últimos anos, a taxa de juros no país caiu de forma permanente a patamares mais baixos. Disso pode se entender, portanto, que será bem difícil a taxa Selic voltar a dois dígitos.

Os juros futuros tiveram reação modesta ao pronunciamento de Tombini, porque a possibilidade de os juros subirem este ano para a casa dos 8,50% já está nos preços do mercado (ver mais na página C2).

Quando essa elevação ocorreria, é uma incógnita. Aliás, o presidente do BC não se comprometeu 100% com a elevação da Selic nem deu indicações de prazos. Mas ao, de certa forma, relativizar a última ata do Copom, ele aplainou o caminho para, se quiser, elevar a taxa a partir da próxima reunião.

Tombini participou do lançamento do programa "Otimiza BC", cujo objetivo é reduzir custos às instituições financeiras simplificando a forma como a autoridade supervisora cobra, recebe e gerencia informações prestadas sistemática e obrigatoriamente.

Durante o evento ele destacou, ainda, que a meta de inflação foi cumprida por nove anos consecutivos, o que permitiu a redução significativa dos prêmios de risco. Além disso, houve "aprofundamento do mercado de crédito" e avanços do ponto de vista fiscal da economia, abrindo espaço para o processo de queda das taxas de juros no país. Essas mudanças, segundo ele, "têm grau de perenidade", o que contribuiu para que a economia brasileira tenha sólidos indicadores de solvência e liquidez, concluiu.