Título: Moeda livre da guerra cambial promete ter melhor desempenho
Autor: Costa, Roberta; Oyamada, Aline
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2013, Finanças, p. C3

As moedas vencedoras em 2013 serão aquelas não envolvidas na "guerra cambial", na visão de estrategistas de quatro instituições ouvidas pelo Valor: Nomura, MINT Partners, HSBC e UBS. Mas não há unanimidade. Tudo dependerá de como a economia global se comportará neste ano e, por conseguinte, como os bancos centrais conduzirão suas políticas convencionais e não convencionais.

Se no primeiro momento da crise - com o estouro da bolha imobiliária nos EUA e depois com o risco de dissolução do euro - as autoridades monetárias agiram para eliminar riscos de ruptura (os "tail risks"), no estado atual os países brigam para estimular a atividade econômica e reduzir o desemprego. É essa "sutileza" de diagnóstico que aprofunda o debate em torno da existência de uma guerra cambial, por meio de desvalorizações competitivas. Em declarações recentes, os banqueiros centrais - destaque para Mario Draghi na última reunião do BCE - e o G-20 descrevem, em comunicado oficial, o comportamento das taxas de câmbio como resultado de medidas pró-crescimento e não um objetivo em si para promovê-lo. Opinião compartilhada por Nomura e a corretora britânica MINT.

Para o chefe de estratégia e pesquisa de câmbio do Nomura, Charles St-Arnaud, a guerra cambial não existe. Segundo ele, a maioria dos bancos centrais derrubou as taxas de juros para próximo de zero e está usando instrumentos não convencionais com o objetivo de estimular suas economias e não para tornar sua moeda mais competitiva. "A depreciação na taxa de câmbio é, em muitos casos, mais um efeito colateral da política que o objetivo central", disse St-Arnaud ao lembrar que o Japão é uma exceção. Se os países desenvolvidos continuarem a expandir seus balanços em 2013, o estrategista diz acreditar que o melhor desempenho será observado nas moedas dos países emergentes.

"Especificamente, é provável que o peso mexicano mostre uma melhor performance, dado seus fundamentos econômicos positivos, como as reformas estruturais que estão para vir, e o fato de que a moeda está ligeiramente subvalorizada", disse St-Arnaud.

Bill Blain, estrategista de mercado da MINT Partners, também diz não acreditar que uma guerra cambial esteja em erupção. "Acreditamos que uma mudança tectônica na economia global está para acontecer, parcialmente iniciada pelo novo governo do Japão e suas tentativas de estimular o país por meio de políticas que incluem a agressiva depreciação do iene", disse. Na opinião do estrategista, a desvalorização da moeda japonesa é boa porque impulsiona o crescimento na Ásia e nos EUA. "Esses países precisam de crescimento forte no Japão para incentivar seus próprios crescimentos", afirmou.

Para Blain, a moeda com grande potencial de ganhos em 2013 é a libra, pois "receberá o status de "porto seguro" da Europa sem o risco europeu". Segundo ele, os riscos ao euro de uma nova crise bancária e soberana na Europa estão crescendo, já que o apetite limitado por títulos de governos europeus pode provocar uma nova alta nos "yields" (retornos) dos papéis. Isso poderia levar a Espanha a pedir resgate ao BCE e ativar o programa OMT, o que provocaria uma nova onda de incerteza na região. "Se houver dúvidas de que a Alemanha irá apoiar de forma ilimitada a expansão do balanço do BCE, então espere que o euro se deprecie."

Ao contrário de St-Arnaud e Blain, a equipe de estratégia de câmbio do HSBC afirma que a guerra cambial está se intensificando. Em estudo sobre o tema, os estrategistas afirmam que há cada vez mais participantes na disputa e que novos instrumentos estão sendo empregados. Além dos mecanismos tradicionais de manobra da moeda (retórica, taxa de juros e intervenção direta), os bancos centrais agora contam com os afrouxamentos quantitativos.

Observando o comportamento de 36 moedas, o HSBC atribuiu a cada banco central um grau de atividade no mercado de câmbio e verificou que nos últimos 12 meses a maior parte das autoridades se tornou mais agressiva na proteção de suas moedas. O topo da lista dos mais ativos é ocupado pelo Japão (medidas pró-inflação e crescimento) e pela Suíça (estabelecimento de um piso para o franco suíço), economias em que a tendência de apreciação da moeda vem sendo contida por ações de seus bancos centrais.

Entre os bancos centrais menos engajados na guerra cambial, segundo o HSBC, estão o BCE, o banco central do México (Banxico) e o Banco do Canadá. O Fed ocupa o meio da lista, e o BC do Brasil está entre os oito mais ativos.

Daragh Maher, estrategista sênior de câmbio do HSBC e um dos autores do estudo, disse ao Valor que, sob o cenário atual, as moedas mais fortes serão aquelas cujos bancos centrais estão menos ativos na disputa. "As que parecem mais proeminentes são aquelas ligadas às commodities, como o dólar australiano e o neozelandês", disse Maher. O euro é outra aposta forte do banco, por representar uma "válvula segura" caso haja desvalorizações competitivas em outros países, pois o estrategista não acredita que o BCE esteja muito desconfortável com o patamar atual da moeda. Entre os emergentes, assim como o Nomura, Maher diz que o peso mexicano tem o maior potencial de fortalecimento, por ser a moeda da "nação mais disposta a permitir que o mercado dite o nível da taxa de câmbio".

Para Mansoor Mohi-Uddin, chefe de estratégia de câmbio do banco UBS, "o dólar terá o melhor desempenho entre as moedas do G-7 este ano". Ele explica que, quanto maior a incerteza em relação às próximas ações de um banco central, maior a volatilidade da moeda. Portanto, o iene é classificado como a aposta mais arriscada, enquanto o dólar deve ser a moeda mais resiliente no ano em função do término das compras de ativos pelo Fed. A expectativa do UBS é que o mercado de trabalho americano gere em média 200 mil vagas de emprego ao mês durante 2013, o suficiente para o Fed encerrar o QE (afrouxamento quantitativo) no final do ano. "Consequentemente, esperamos que a cotação do dólar volte para 1,20 contra o euro no final de 2013."