Título: IBC-Br deixou de ser um bom índice, diz Schwartsman
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2013, Brasil, p. A3

Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados, olha para o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), apurado e usado pela autoridade monetária para antecipar a tendência do Produto Interno Bruto (PIB), com certa desconfiança.

Para o ex-diretor de assuntos internacionais do BC, até o terceiro trimestre, o IBC-Br era um excelente indicador do PIB, mas essa relação se quebrou. "Não sei o motivo do descolamento. Desconfio que foi um acidente, mais do que algum fenômeno fundamental. Precisa ver se alguma mudança aconteceu que o IBC-Br deixa de ser um bom índice", disse. "Tanto que estou levando a sério o nível de crescimento que o IBC-Br apresentou no quarto trimestre como sendo o do PIB, a ser divulgado em março pelo IBGE, o que é um ritmo de crescimento muito baixo."

Para Schwartsman, o ritmo de expansão econômica no Brasil hoje é determinado muito mais por limitações de oferta do que por expansão da demanda. "São limitações que se expressam na taxa de desemprego. Não é por acaso que o PIB cresce menos de 1% e o emprego cresce 2%. Há alguma coisa esquisita aí."

O economista disse que mantém a expectativa de manutenção do juro básico ao longo de 2013 em 7,25% ao ano, mas não descarta a possibilidade de a autoridade monetária mudar de ideia e elevar os juros. Caso o movimento seja confirmado, Schwartsman diz que ele ficará mais para o fim do ano, com uma alta entre 100 e 150 pontos-base, o que considera insuficiente.

Na avaliação do economista, para trazer a inflação para mais perto do centro da meta, a Selic teria que subir para níveis ao redor de 10% ou 11%. Um dos custos políticos, porém, seria a elevação da taxa de desemprego para algo entre 6% e 7%, um nível que não pressionaria a inflação, segundo ele. "O porcentual da taxa de desemprego ninguém sabe muito bem qual é. Mas não pode ficar em 5%, porque nesse nível está gerando aumentos salariais incompatíveis com o crescimento da produtividade, portanto, incompatíveis com a inflação na meta", afirmou, após uma aula inaugural do Insper. "Mas algum governo vai pagar esse custo? Desconfio que não."

Em referência às intervenções do BC no mercado de câmbio para controlar a inflação, Schwartsman disse que isso não condiz com uma política monetária independente. "Não é à toa que temos uma inflação alta." Ele disse ainda que, se o BC fosse efetivamente autônomo, a preocupação da autoridade monetária não seria com o ciclo político, como parece ser, mas sim com a inflação. "Quando se chega ao ponto em que a ordem do governo é para agir de modo a fazer com que o BC pareça autônomo tem alguma coisa errada com isso."

O economista afirmou que continua cético com relação à possibilidade de o BC subir os juros na próxima reunião, porque o "custo disso politicamente não se paga". Mas lembrou que esse comportamento vai custar a volta da inflação para a meta. "Tenho insistido em dizer que a inflação não cai com gravidade, mas apenas quando se faz algo para ela cair e o BC não tem feito coisa nenhuma."

Segundo as projeções de Schwartsman, o PIB deve encerrar o ano em alta entre 2,5% e 3% e a inflação ao redor de 6%. Mas, na avaliação do economista, as prioridades do governo são, nessa ordem: câmbio de R$ 2, crescimento de 4%, juro de 7% e inflação "seja o que Deus quiser".