Título: Vale faz caixa com a venda de ativos não estratégicos
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2007, Empresas, p. B6

A decisão da Vale do Rio Doce de fazer oferta pública de 13,8 milhões de ações ordinárias da Usiminas que sobraram no seu portfólio, após sua entrada no bloco de controle da siderúrgica, é avaliada por analistas da área de mineração de bancos de investimento como parte de um movimento mais amplo da mineradora de se desfazer dos ativos da companhia considerados fora do seu foco estratégico. A meta seria reforçar o caixa e se preparar para fazer novas aquisições estratégicas após a da Inco, que ampliou a dívida da Vale para US$ 25 bilhões.

"O desinvestimento é positivo e lógico", destaca em relatório sobre a Vale o analista Felipe Hurai, da Merrill Lynch. Para Rodrigo Ferraz, da Brascan, a mineradora, depois de se alavancar comprando a canadense Inco está reordenando prioridades para evitar aumentar sua dívida, mesmo com a perspectiva de aumentar sua receita este ano com a alta de commodities como o níquel, cujo preço pode bater em US$ 44 mil a tonelada. Em 2006, a Vale vendeu ativos que lhe renderam US$ 721 milhões, entre os quais participação na GIIC, pelotizadora do Bahrein; a Nova Era Silicon, de ferro silício; sua fatia na hidrelétrica Foz do Chapecó; ações da Usiminas para os sócios do bloco controlador da siderúrgica e os 5% que detinha na Siderar.

Para Hirai, este processo deve se manter neste ano. O primeiro passo foi dado com o anúncio da abertura de capital da Log-In Logística Intermodal que deverá ocorrer ainda no primeiro semestre do ano em bolsas.

Ferraz, da Brascan, avalia que a abertura de capital da Log-In poderá render à Vale cerca de R$ 1 bilhão. Este valor, somado ao que poderá ser faturado com a colocação de 12,3% da Usiminas no mercado nacional e internacional, por volta de abril, coordenada pela Merrill Lynch, poderá somar mais R$ 1,5 bilhão ao caixa da Vale. Neste caso, o desinvestimento ajuda a empresa a pagar aquisições menores, com a AMCI, holding de carvão australiana que a Vale comprou por US$ 662 milhões. Há ainda a mina de ferro de Sesa Goa, na Índia, que está disputando com outros grupos, como a Arcelor Mittal.

Além das ações da Log-In e da Usiminas, a Vale está se desfazendo de ativos da sua área de manganês e ferro-ligas, como adiantou o Valor, e ainda dispõe de empresas de caulim (Cadam e Pará Pigmentos), que na previsão dos analistas podem ser alvos de venda ainda este ano, pois nada têm a ver com a estratégia da mineradora de ser líder global de mineração e metais. Pode ser incluído ainda ativo de ferro-gusa.

Rodrigo Barros, do Unibanco, destaca que estes desinvestimentos vêem sendo feitos conjuntamente com aceleração do crescimento da companhia. "Alguns clientes da Vale estão preocupados com o poder que ela pretende atingir no mercado de minérios e metais, com planos de ser predominante em ferro, níquel, carvão e vai para frente. Por isso que a Arcelor Mittal quer ser independente da Vale". Segundo Barros, a indústria do aço teme que "a Vale vá concentrar matéria-prima de tal forma que pode extrair boa parte do lucro das siderúrgicas".

Pedro Galdi, do ABN Amro, considera que "o momento é propício para a Vale se desfazer de ativos, pois ao mesmo tempo que abre o capital de uma subsidiária, ela está comprando uma empresa na Austrália e disputando outra na Índia. O importante é alocar dinheiro para dentro do seu caixa para continuar fazendo aquisições".