Título: Tucano ganha por pontos debate de baixa audiência
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2013, Política, p. A8

No primeiro ensaio real do embate eleitoral de 2014, o senador Aécio Neves, provável candidato presidencial do PSDB, ganhou por pontos do senador Lindberg Farias (RJ), escalado pelo PT para defender os 10 anos de governo do partido, comemorados em São Paulo com a presença da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O que faltou em veemência a Aécio Neves, sobrou na curta intervenção feita por Lindberg, uma espécie de ataque de guerrilha, um emboscada seguida de rápida retirada. Já o que sobrou em coerência a Aécio Neves, em discurso bem estruturado, faltou a Lindberg, que optou pela linguagem do palanque. Lindberg falou mais para carimbar a presença do PT no discurso de Aécio, assim como fez Aécio ao contraditar os termos da comemoração dos dez anos de governos petistas.

Aécio falou das contradições do governo do PT, como processo "atabalhoado" das concessões, depois de ter criticado as privatizações tucanas, das obras paralisadas, da crise da Petrobras, na educação, e dos "equívocos históricos" do partido, como a falta de apoio à Carta de 1988, que não queria assinar, e ao ex-presidente Itamar Franco na transição que se seguiu ao impeachment de Collor.

Houve uma época, nos debates eleitorais, em que os candidatos geralmente caíam numa "pegadinha" de jornalistas ou adversários: qual o preço do pãozinho? Lindberg preparou sua própria "pegadinha" e mandou os assessores contarem quantas vezes Aécio falara as palavras "povo, inclusão social, miséria". Nenhuma.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) interveio para dizer que o "povo" era o sujeito oculto de toda a fala de Aécio, como no momento em que ele incluiu o combate à seca do Nordeste como um dos fracassos do PT. O fato é que PT e PSDB têm formas diferentes de se dirigir ao "povo", uma mais populista e outra mais formal, respectivamente.

Aécio venceu por pontos porque atingiu seu objetivo: pautou uma oposição ansiosa por se manifestar. Não foi à toa que o presidente do Senado, Renan Calheiros, tentou a todo o custo enquadrar o discurso de Aécio no tempo regimental, apesar dos protestos dos senadores que enxergaram uma brecha para, enfim, o Senado entrar num debate de políticas públicas. Pouco antes, ativistas virtuais haviam entregado no Senado uma petição com 1,6 milhão de assinaturas pedindo a renúncia de Calheiros.

Segundo o próprio Aécio, seu tom comedido foi de "elegância" e educação política. Quem já o viu em um palanque sabe bem que o presidenciável tucano também maneja com maestria as armas de ataque. O debate, nesse aspecto, portanto, não é parâmetro. Esse é o estilo de Aécio.

Outras coisas devem preocupar a oposição, entre elas o baixo número de senadores presentes, embora, quando ele começou a falar, o painel registrasse a presença de 62 senadores. O fato é que os lugares estavam preenchidos, além dos senadores efetivamente em suas cadeiras, por deputados do PSDB, do DEM e, o que merece registro, do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. No caso, o deputado Júlio Delgado, que acaba de sair de uma eleição para presidente da Câmara com votação surpreendente. Neves e Campos têm conversado.

O fato deve preocupar porque a candidatura de Aécio será mais forte quanto maior for sua capacidade de agregar apoios nos outros partidos, além dos já tradicionais DEM e PPS. E esse é declaradamente um propósito de Aécio, que, em Minas Gerais, governou com uma aliança com mais de uma dúzia de partidos. Fato a favor é que tucanos de todas as tendências prestigiaram o discurso, inclusive os serristas.

Os apartes, que em geral servem para medir a importância de um discurso, só não foram mais abundantes por causa da exigência de Renan Calheiros em cumprir o regimento, quando no Senado os presidentes costumam ser mais generosos com o tempo de tribuna dos colegas.

Aécio ainda marcou mais pontos, ainda, por ter recepcionado a blogueira Yoani Sánchez, vítima de uma perseguição fascista de militantes do PT e do PCdoB, que impediram a exibição de um documentário, no qual ela é uma das entrevistadas, sobre liberdade de expressão. O filme foi finalmente exibido num dos plenários da Câmara, sob a proteção do PSDB.

E Aécio marcou posição firme sobre o direito a liberdade de imprensa.