Título: O que governa o Brasil é a lógica da reeleição, diz Aécio
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2013, Política, p. A8

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) respondeu ontem às pressões que vem sofrendo de aliados para assumir a liderança das oposições com um discurso de contraponto à propaganda feita pelo PT de seus dez anos no governo. Numa fala de cerca de 20 minutos, apontou 13 pontos que considera "fracassos" da gestão petista. Deputados e senadores de partidos da oposição foram mobilizados para assistir ao discurso, no plenário do Senado.

Aécio afirmou que a presidente Dilma Rousseff - que provavelmente enfrentará nas eleições de 2014 - chega à metade do mandato sem cumprir promessas de campanha, mostrando "incapacidade de gestão", com o país parado e os pilares da economia em rápida deterioração, colocando em risco a estabilidade da moeda. "Não é mais a presidente que governa. O que governa o Brasil é a lógica da reeleição", afirmou.

O tom do presidenciável tucano foi recebido por parlamentares do PSDB e do DEM como uma espécie de "toque de união" das oposições. O discurso, que havia sido rebatido previamente, na véspera, pelo senador Jorge Viana (PT-AC) - após notícias sobre o discurso que seria feito -, nesta quarta-feira foi respondido por Lindbergh Farias (PT-RJ), em aparte, e Wellington Dias (PT-PI), líder do PT, em pronunciamento posterior.

"Acho que vossa excelência não constrói com um discurso competitivo, para quem é candidato a presidente da República. Em mais de meia hora de discurso, em nenhum momento citou as palavras povo, pessoas, gente, emprego, miséria, inclusão social", afirmou Lindbergh. Alan Marques/Folhapress / Alan Marques/FolhapressLindbergh: "Em mais de meia hora de discurso não citou as palavras povo, pessoas, emprego, miséria, inclusão social"

"Agradeço a gentileza do lançamento de minha candidatura à Presidência da República, mas ela não está em pauta ainda", disse Aécio. E rebateu, afirmando que, ao falar da questão do crack e da volta da inflação, falava de povo. "Não pode haver neste país, por mais que alguns queiram, o monopólio do povo. Ele não pertence a uma facção e a um partido político", completou.

Entre os 13 supostos "fracassos" da gestão petista destacados por Aécio, estão: comprometimento do desenvolvimento do país (PIB per capita de 1%), paralisia na infraestrutura (problemas das rodovias, portos e aeroportos), indústria sucateada (setor industrial começa a desempregar e país voltando a ser mero exportador de commodities), inflação em alta, má gestão econômica (malabarismos inéditos e manobras contábeis que ameaçam a credibilidade fiscal) e destruição do patrimônio nacional (derrocada da Petrobras e desmonte das estatais).

Os outros pontos relacionados pelo presidenciável tucano foram "o mito da autossuficiência e a implosão do etanol" (importação de etanol dos Estados Unidos), ausência de planejamento do setor energético (risco de apagão), desmantelamento da federação (fragilidade de Estados e municípios por prática do governo), insegurança pública e flagelo econômico (apenas 13% dos recursos públicos investidos em segurança pública no país vêm da União), descaso na saúde e frustração na educação, estímulo à intolerância e o autoritarismo e (PT "trata adversário como inimigo a ser abatido") e, por fim, a "complacência" com os desvios éticos.

Aécio criticou a cartilha produzida pelo PT para comemorar seus 33 anos de existência e dez de governo, na qual, segundo ele, as conjunturas "absolutamente diferentes" dos governos do PT e do PSDB são tratadas como iguais.

"Ao escolher comemorar o seu aniversário falando do PSDB, o PT transformou o nosso partido no convidado de honra da sua festa. Eu aceito o convite, até porque temos muito o que dizer aos nossos anfitriões. Apesar do esforço do partido [PT] em se apresentar como redentor do Brasil moderno, é justo assinalar ausências importantes na celebração petista."

A um plenário que registrava a presença de 62 senadores no início e 67 ao final do seu discurso, Aécio disse que faltam ao PT "autocrítica, humildade e o reconhecimento" e que a gestão petista deu continuidade às políticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sem reconhecer a contribuição do governo do PSDB que possibilitaram conquistas do governo petista.

"Qual é o PT que celebra aniversário hoje? O que fez do discurso da ética, durante anos, a sua principal bandeira eleitoral, ou o que defende em praça pública os réus do mensalão? O que condenou com ferocidade as privatizações conduzidas pelo PSDB ou o que as realiza hoje, sem qualquer constrangimento? O que discursa defendendo um Estado forte ou o que coloca em risco as principais empresas públicas nacionais, como a Petrobras e a Eletrobrás?", perguntou.

Entre outras contradições, citou que o PT da oposição "lutava pelas liberdades" e o do poder "apoia ditaduras e defende o controle da imprensa".

O senador lembrou comportamentos adotados pelo PT no passado, que considera equivocados, como quando se opôs à eleição de Tancredo Neves _ avô de Aécio_ no Colégio Eleitoral, renegou a Constituição de 88, não deu apoio ao governo Itamar Franco e foi contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Aécio foi aplaudido uma vez, durante o pronunciamento, e ao terminar. Uma fila de deputados e senadores da oposição se formou para cumprimentá-lo, levando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a suspender momentaneamente a sessão, para que o líder do PT, Wellington Dias (PI), pudesse falar. "A oposição citou 13 pontos, para mim foi um sacrifício listar apenas 45 pontos [de sucesso do governo do PT] para citar aqui", disse o líder.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), alegando restrições regimentais, não permitiu a continuidade do debate, mas o embate entre aliados e oposicionistas continuou nos discursos seguintes.

O líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), político próximo do ex-governador José Serra (PSDB-SP), fez um elogio entusiasmado ao discurso de Aécio, que classificou de "discurso de grande líder político". O senador paulista afirmou que o "povo" estava presente em todos os momentos do discurso de Aécio. "Quero cumprimentá-lo vivamente. É um orgulho ser seu companheiro de partido e de bancada", disse.

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), definiu o discurso de Aécio não como de um candidato a presidente da República, mas de "líder oposicionista, líder de um partido", mostrando um ponto de vista sobre o país que era esperado dele.

O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), disse que foi um discurso "elegante", por não ter focado no que considera marca registrada do PT: a conivência com a impunidade. "Foi um discurso suave, consistente, que mostrou a verdade, e de convocação da oposição a se manifestar contra um governo que está dando n"água", disse o demista.