Título: Líderes da base dão ultimato a petistas
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2005, Política, p. A6

Os líderes da base de sustentação do governo deram ontem um ultimato às lideranças do PT: o partido é o único encarregado e responsável por resolver suas disputas internas e viabilizar a candidatura oficial do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) à presidência da Câmara. Numa reunião fechada, que durou cerca de duas horas, Greenhalgh recebeu apoios institucionais importantes do PP, PMDB, PTB, PCdoB, PL e PSB, mas caberá aos petistas convencer o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) a desistir de apresentar uma candidatura avulsa (independente) e concorrer com o colega de partido. A reunião contou também com a presença de parlamentares do PT, incluindo o presidente da Casa, João Paulo Cunha. Depois de passar férias com a família em Natal, João Paulo chegou a Brasília ontem - ainda em clima praiano, barba por fazer e dispensando as formalidades do terno e da gravata - e ofereceu-se para coordenar a campanha de Greenhalgh. Sobre as especulações de que estaria, nos bastidores, insuflando a rebeldia de Virgílio Guimarães, o presidente da Câmara afirmou que só os que não o conhecem afirmam isso: "As pessoas acham que o problema de caráter, de ter duas opiniões, é de todo mundo. É de alguns. Eu não sou assim. Eu não preciso ficar respondendo a isso para ninguém. O tempo mostra tudo. Não é nenhum problema pra mim. Problema zero". O presidente da Câmara disse ainda que, durante o processo de escolha no PT, declarou abertamente o apoio a Virgílio Guimarães. "Mas, não mexi uma palha (em favor dele)", garantiu. João Paulo disse que conversará com Virgílio Guimarães. Ele fez vários elogios ao mineiro. "Nós queremos que o Virgílio esteja participando desse processo. Todos (no PT) sabemos o tamanho da nossa responsabilidade. Não vamos brincar", previu. O PT vai agir em peso para convencer Virgílio a desistir da candidatura. O mineiro terá nova conversa hoje com o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que tenta convencê-lo a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Virgílio Guimarães ainda não dá sinais claros de recuo. Ontem, os aliados de Virgílio, do movimento Câmara Forte, divulgaram pesquisa feita pelo Instituto Sensus, nos dias 5 a 7 deste mês, que mostra a preferência pelo mineiro entre os partidos da base. Os deputados do PT não responderam, por ordem do líder da bancada, Arlindo Chinaglia (SP). Greenhalgh só tem a maioria no PCdoB; com 80% dos votos. Virgílio tem 90% da preferência no PL; 67% no PPS; 89% no PTB; 85% no PP; 86% no PMDB; e 63% no PSB. Os petistas minimizaram a pesquisa, enfatizando que o candidato do partido é Greenhalgh. Greenhalgh já montou uma comissão para ouvir propostas de deputados sobre o funcionamento da Câmara e também um comitê de campanha, que terá um representante de cada partido. A partir desta semana, o candidato oficial do PT começa a viajar pelos Estados. De acordo com relatos de deputados, João Paulo declarou apoio firme a Greenhalgh na reunião fechada. No entanto, admitiu que o processo de escolha no PT foi polêmico, apesar de legítimo. Enfatizou que não é o fato de o PT ter escolhido um nome que garantirá a eleição de Greenhalgh. Para João Paulo, é preciso batalhar, dialogar e buscar votos. O presidente da Câmara disse ainda que Greenhalgh é criticado exatamente por seus méritos, como o exercício da advocacia em defesa de grupos excluídos. Os líderes do PMDB, José Borba (PR); do PP, Pedro Henry (MT); e do PTB, José Múcio (PE), afirmaram que a tendência, em seus partidos, é votar no candidato do PT. No entanto, deixaram claro que há resistências em suas bancadas ao nome de Greenhalgh, e grande simpatia ao nome de Virgílio. Por isso, o PT precisa ter apenas um candidato. Pedro Henry disse que o nome de Greenhalgh nunca foi o preferido na bancada do PP, mas agora estava engajado na campanha do petista por respeitar as escolhas partidárias e os critérios da proporcionalidade - leva a presidência quem tem a maior bancada. Os demais líderes fizeram observações semelhantes. (Colaborou Taciana Collet)