Título: PT reúne aliados e lança Dilma à reeleição
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2013, Política, p. A9

A comemoração dos dez anos do PT no comando da Presidência da República, organizada pelo partido na noite de ontem, em São Paulo, transformou-se no lançamento da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014 e afastou os rumores de uma nova candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo ano. Ao lado de Dilma, Lula defendeu um novo mandato à presidente e empolgou a plateia de militantes ao chamar o PSDB para fazer comparações entre as gestões federais petista e tucana, inclusive no debate sobre corrupção.

Em um salão lotado de um hotel na capital paulista, com capacidade para mil pessoas, Lula criticou a oposição e disse para a militância não temer o debate nem as comparações.

O ex-presidente ironizou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que demonstrou irritação com a cartilha distribuída pelo PT --, que compara os dez anos do PT no governo com os oito anos do PSDB-- e provocou: "Queremos fazer comparação, inclusive no debate sobre a corrupção". A plateia aplaudiu de pé. "Duvido que tenha um governo que criou mais instrumentos para combater a corrupção do que o nosso".

Lula disse que a oposição está "fragilizada", "inquieta", "sem valores, sem discurso e sem propostas". "Tudo o que eles pensam em fazer nós fizemos mais e melhor", disse.

Ao falar sobre críticas feitas ontem pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobre o legado dos dez anos do PT, Lula disse que não iria responder as declarações do pré-candidato tucano à Presidência "A resposta que o PT deve dar é que podem se preparar, juntar quem quiserem. Vamos dar como resposta a reeleição de Dilma em 2014", disse.

Em clima de campanha, com direito a jingle, slogan e pôsteres, o evento sinalizou que o combate à miséria deve ser um dos principais motes da campanha de reeleição.

Lula, ao discursar, convocou o povo a "fazer um mutirão cívico" contra a fome no país.

A propaganda do evento destacou ações do governo de combate à miséria, em sintonia com a cerimônia organizada pela Presidência, um dia antes, quando Dilma anunciou em Brasília a ampliação das famílias que receberão o Bolsa Família e afirmou que 22 milhões de pessoas saíram da linha da miséria nos últimos dois anos. Ao discursar, a presidente repetiu uma frase que estava estampada em uma das paredes do local e disse que "o governo jamais abandonou os pobres e é por isso que a miséria está nos abandonando". A plateia reagiu com aplausos e gritos de "Dilma, Dilma".

Vestida com um blazer vermelho e com discurso de candidata, a presidente fez um balanço de sua gestão e focou nas ações na área econômica. Dilma disse que a estabilidade macroeconômica está garantida. "Erram os que dizem que estamos abandonando os pilares de nossa economia. Nós mesmos ajudamos a construi-los, a duras penas. Esses pilares que dão estabilidade estão construídos em base ainda mais fundamentadas", disse. A presidente reclamou de especulações sobre a capacidade de crescimento do país neste ano e afirmou que os fundamentos da economia brasileira são sólidos. Dilma destacou ainda, em seu discurso, a redução da tarifa de energia elétrica, feita recentemente por seu governo, e disse que a Petrobras se firmou como uma das maiores empresas brasileiras.

Um dos anfitriões do evento, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, elogiou a presidente por "enquadrar o sistema financeiro" e disse que, se depender dele, a presidente ficará no cargo "pelos próximos seis anos", deixando claro seu apoio à reeleição de Dilma. A declaração foi fortemente aplaudida.

Na festa, estavam onze ministros, quatro governadores petistas, presidentes e dirigentes do PSB, PMDB, PDT, PR, PCdoB, PTC, PRB e PTN, além de militantes e parlamentares.

No palco principal do salão de um hotel na capital paulista, um poster estampava os rostos de Dilma e Lula, grudados, com o slogan "do povo, para o povo, pelo povo". O jingle, tocado no início da comemoração, também exaltava o povo. A mesma foto do palco estampava a cartilha de quinze páginas distribuída aos participantes, com a comparação entre as gestões do PT e do PSDB no governo federal.

O ex-ministro José Dirceu e os deputados José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP), todos condenados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão, participaram do evento, mas não ficaram no palco, evitando assim fotos ao lado de Lula e Dilma.

Dirigentes de partidos da base aliada discursaram e tiveram lugar de destaque no palco, assim como governadores petistas.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi vaiado ao ser anunciado, antes de discursar e depois de encerrar uma rápida fala. O vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, não foi ao evento "por motivo de agenda". O presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), fez um discurso exaltando a aliança entre PT e PMDB, na tentativa de afastar rumores de que o partido poderia ser substituído pelo PSB na chapa de reeleição de Dilma. Segundo Raupp, PT e PMDB estão" irmanados" e o apoio de seu partido ajudou na governabilidade de Lula e Dilma, permitindo avanços sociais.

O presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não participou e em seu lugar esteve o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral. O dirigente defendeu que PT e PSB permaneçam "de braços dados" com Dilma. "Com ela esperamos continuar juntos e de braços dados, construindo um novo Brasil à altura de suas conquistas, de suas lideranças, comprometido com lo combate à fome e a defesa da soberania", disse.