Título: Prejuízo mensal será de US$ 9 milhões
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Brasil, p. A5

A Petrobras Bolívia terá um prejuízo mensal de aproximadamente US$ 9 milhões com o novo decreto do presidente Evo Morales que transferiu para a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) o controle da exportação de gasolina branca (um tipo de gasolina leve) e petróleo reconstituído (um resíduo do processo de refino ao qual se adiciona nafta e óleo combustível). O cálculo sobre o prejuízo é de fonte da companhia na Bolívia. No ano, caso a situação permaneça (o que é improvável), o prejuízo será de US$ 109 milhões.

Os dois produtos que passam a ser controlados pelo Estado boliviano respondem por cerca de 20% da produção de derivados das refinarias Gualberto Villaroel (em Cochabamba) e Guillermo Elder Bell (em Santa Cruz de la Sierra) e a praticamente 100% do lucro das duas plantas, as únicas do país.

Atualmente os dois produtos, que são exportados para o Caribe e os Estados Unidos, representam a única atividade lucrativa do refino na Bolívia, onde os preços da gasolina e do diesel para venda no mercado interno são subsidiados. Ali o preço do petróleo está congelado em US$ 27,11 por barril. E como os derivados são tabelados na faixa de US$ 24 o barril, a operação resulta em prejuízo.

A alternativa para evitar que a operação ficasse no vermelho foi vender esses resíduos no mercado internacional, onde ele tem um "desconto" de US$ 10 a US$ 15 em relação ao preço do petróleo no mercado americano, o West Texas Intermediate (WTI).

Segundo um executivo da Petrobras Bolívia ouvido ontem pelo Valor, o novo decreto asfixia a atividade da companhia no refino e corta o resultado pela raiz. "É como se confiscassem o nosso fluxo de caixa", resumiu.

Isso piora o resultado operacional da Petrobras Bolívia (PEB), que no ano passado registrou um lucro pífio de US$ 27 milhões, 75% menos que os US$ 107 milhões apurados em 2005. Grande parte desse resultado se deveu ao imposto adicional de 32% - pago pela atividade de exploração e produção - , que resultou em pagamentos indevidos, segundo a brasileira, de US$ 99 milhões.

O que permitiu que a empresa fechasse o ano com o balanço no azul foi o refino, que deu lucro de aproximadamente US$ 60 milhões, praticamente tudo resultado das exportações de cru reconstituído e gasolina, atividade que agora o governo retira das mãos da brasileira.

O decreto de Morales estabelece que a Petrobras venda para a YPFB o cru reconstituído produzido em suas refinarias por US$ 30,35 o barril. A YPFB então poderá vender o produto no mercado internacional por cerca de US$ 56 a US$ 58 . Já a gasolina teve se preço de venda (para a YPFB) estabelecido em US$ 31,29. Ao mesmo tempo em que a estatal boliviana foi autorizada a comprar esses produtos a preço tabelado no mercado interno, ela poderá exportá-los a preço de mercado internacional. Em notícia divulgada na estatal Agência Boliviana de Informações (ABI), Evo Morales estimou que a medida trará um lucro de US$ 200 mil por dia para o país. É menos do que a perda da Petrobras.

Enquanto enfrenta mais um dissabor na Bolívia, a Petrobras mantém planos de investir US$ 200 milhões no país, para aumentar a produção de gás em 3,6 milhões de metros cúbicos/dia. Esse investimento é maior do que os US$ 56 milhões que a estatal investiu no país em 2006 porque agora será preciso aumentar a produção para atender a novos contratos de exportação e para atender ao mercado interno.