Título: Um novo líder duro e ambicioso
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Internacional, p. A9

A ascensão de Nicolas Sarkozy à Presidência da França exemplifica o país que ele tem em mente: uma terra de oportunidades para as pessoas, mesmo filhos de imigrantes, como ele próprio, que trabalham duro e respeitam as regras.

Críticos qualificam Sarkozy, de 52 anos, de perigoso neoconservador. Ele não poupa elogios aos EUA, promete ser duro no combate ao crime e terrorismo e costuma ver a sociedade em termos de preto e branco, certo e errado.

Filho de um imigrante húngaro, Sarkozy sempre mostrou enorme ambição e oportunismo. Ele promete um recomeço para a França, após 12 anos sem brilho sob seu ex-mentor, Jacques Chirac. Embora Chirac e Sarkozy sejam politicamente conservadores, foram freqüentemente adversários. Mesmo com sua astúcia e experiência, até Chirac não pôde evitar a ascensão de Sarkozy. Acredita-se que ele tinha outros sucessores em mente.

Sarkozy não fez segredo de seu desejo de poder. "Não quero ser presidente, preciso ser presidente", disse à biógrafa Catherine Nay.

Ele incomodou muita gente. Despertou ira nas periferias pobres, onde vivem muitos negros e árabes, ao qualificar de "escória" os delinqüentes moradores nessas comunidades. Esses bairros foram varridos por uma onda de distúrbios no fim de 2005, e ele se tornou-se seu inimigo nº 1. Sarkozy rejeitou se desculpar. "Tenho a intenção de continuar chamando um arruaceiro de arruaceiro, e escória de escória", disse em abril.

Para muitos, essa eleição foi um referendo sobre Sarkozy: muitos eleitores apoiaram sua rival, Ségolène Royal, na esperança de barrar o sue caminho à Presidência.

Como presidente, suas principais atribuições serão defesa e política externa. Mas o chefe de Estado francês tem uma vasta influência para além das atribuições oficiais, e o principal objetivo de Sarkozy é deflagrar um renascimento econômico que resgate a autoconfiança da França.

No exterior, sua rudeza pode conflitar com a reputação francesa de diplomacia não emocional.

Fervoroso defensor de Israel e de sua segurança, ele também apóia um Estado palestino. Diz que sua primeira grande viagem ao exterior será para a África, uma velha esfera de influência francesa que tem sido uma crescente fonte de imigrantes ilegais para a Europa.

Sarkozy inspira-se nos EUA para formular suas políticas. Como ministro do Interior, promoveu uma política de "tolerância zero" em relação ao crime. Ele apóia alguma forma de ação afirmativa, políticas para trazer negros e árabes marginalizados para a classe média.

Embora retratado por críticos como um perigoso defensor do liberalismo, Sarkozy interveio para proteger empresas francesas. Em campanha, atacou o Banco Central Europeu (BCE) e um "patronato bandido" que acumula enormes lucros em meio a cortes de pessoal.

Ele é um crítico feroz da jornada de trabalho de 35h semanais, reforma socialista da década de 90.

Nicolas Paul Stephane Sarkozy de Nagy-Bocsa cresceu num lar parisiense de classe média, segundo de três filhos de mãe francesa e pai húngaro - um aristocrata emigrado que fugiu do comunismo depois da Segunda Guerra, entrando para a Legião Estrangeira francesa.

Seus pais se divorciaram quando ele tinha três anos. A mãe educou os filhos com o avô, um médico judeu grego que adorava o general Charles de Gaulle. Sarkozy diz ter tido uma infância infeliz.

A política é desde cedo uma paixão. Ele freqüentou o prestigioso Instituto de Ciências Políticas, de Paris, formando-se em direito. Não completou os estudos na École Nationale d´Administration, formadora das elites políticas, que Chirac e muitos outros freqüentaram.

Em 1983, com 28 anos, tornou-se prefeito de Neuilly-sur-Seine, a cidade mais rica per capita do país. Cinco anos depois, foi eleito para a Assembléia Nacional. Tornou-se ministro do Orçamento e porta-voz do governo nos anos 90, sob o premiê Edouard Balladur.

Em 2002, Chirac nomeou-o ministro do Interior. Sarkozy liderou uma campanha de combate ao crime, e sua popularidade disparou.

Sarkozy não toma bebidas alcoólicas. Ele corre, coleciona selos e tem enxaqueca. Seu maior defeito: tem "muita pressa", disse o próprio Sarkozy recentemente.

(Tradução de Sergio Blum)