Título: "CEBs desaguaram em invasões e baderna"
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Especial, p. A12

Presidente da Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz até a realização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil esta semana, o arcebispo da Paraíba, dom Aldo di Cillo Pagotto se auto-define como um prelado que sempre diz o que pensa, sem se guiar pela conveniência política. Fala sempre um tom acima dos calculados pronunciamentos de seus colegas de episcopado.

No ano passado, em um seminário promovido pela CNBB, bateu com dureza no Programa Bolsa Família: disse que ele promovia nas famílias o vício de se contentar com o mínimo e que muita gente no Nordeste não queria mais trabalhar para receber o benefício. Na ocasião, definiu a reforma agrária como "favelização rural". Por telefone, concedeu a seguinte entrevista ao Valor:

Valor: Ao longo das duas últimas décadas, houve um grande recuo do número percentual de católicos . De quem é a culpa? Do Vaticano, que desarticulou as Comunidades Eclesiais de Base, ou da Teologia da Libertação, que politizou a mensagem religiosa?

Dom Aldo Pagotto: Diante destas duas hipóteses excludentes, fico com a última. Apesar de arcebispo no Nordeste, sou paulista, sobrinho de dom Agnello Rossi. Minha família afastou-se da Igreja Católica, deixou-a de viver cotidianamente, em razão da politização de jaez marxista dos últimos tempos. A opção preferencial pelos pobres introduziu uma interpretação marxista da visão social. Rompeu com a mensagem universal da Igreja. E a inclusão social na Igreja deve ser construída a partir de uma visão universal. A Igreja antes no Brasil era vermelha, guiada pela estrela, a estrela do PT. O PT nasceu dentro das sacristias.

Valor: Mas as Comunidades Eclesiais de Base não aproximavam a Igreja das pessoas mais vulneráveis socialmente?

Dom Aldo: Não. As comunidades legitimaram núcleos marxistas. Desviaram a fé para discussões sociais. Meu tio foi um idealizador destes grupos, mas os concebeu como círculos bíblicos de discussão. As cidades estavam inchando, o êxodo rural aumentava e as pessoas precisavam de uma sustentação. Mas aí aquilo tudo se desviou.

Valor: Seria possível relançá-las, dentro do espírito original?

Dom Aldo: Não. Alguns dentro do episcopado seriam capazes de dar a vida por isto, mas relançá-las é relançar um modelo que fracassou.

Valor: Então qual a alternativa para a Igreja se revitalizar?

Dom Aldo: Temos as missões evangelizadoras. Em 1996, o papa João Paulo II propôs quatro anos de missões catequéticas, ocasião em que preparamos lideranças leigas, para bater nas casas de porta em porta. Os primeiros frutos estão sendo colhidos agora. Na formação de lideranças, envolvemos inclusive o meio empresarial. Nos reunimos com comerciantes, com industriais... Na Paraíba, quero que a Igreja fomente o cooperativismo e a educação profissionalizante. As antigas Comunidades Eclesiais de Base só faziam crítica social e desaguaram em que? Nestes movimentos sociais que temos hoje, que só promovem invasões e fazem baderna, nada mais. Ao nos dirigirmos para a sociedade, temos que ter uma perspectiva plural, falar para todos os segmentos.

Valor: De que maneira a visita do papa Bento XVI poderá influenciar a tentativa de se revitalizar a Igreja?

Dom Aldo: Este papa quer resgatar para a Igreja na América Latina um caráter evangelizador e pastoral. Uma grande atenção será dada para as questões que envolvem a família, este será o foco. O papa tentará conciliar este resgate dos valores morais familiares com o aspecto da ética coletiva, porque é a política que organiza a sociedade.

Valor: Alguns pesquisadores vêem benefícios para Igreja Católica com as políticas sociais adotadas pelo governo atual, que aumentou a renda nas comunidades onde o catolicismo é predominante, como no interior do Nordeste. O senhor concorda com isso?

Dom Aldo; O governo adotou modelos ultrapassados. Estratégias de compensação social que sempre existiram. O programa Bolsa Família é apenas mais uma política ultrapassada, mas este governo é a nossa realidade, não adianta combatê-lo. (CF)