Título: Montadoras buscam alternativas para retomar exportações
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Empresas, p. B8

Primeiro setor a ser beneficiado pela nova equipe do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio com a criação de um grupo de estudos sobre competitividade, a indústria automobilística se prepara para apresentar ao BNDES um detalhamento profundo dos motivos que começam a levar as fábricas de veículos instaladas no país a perder vendas externas para montadoras de outros países.

Ainda ontem, o novo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, pretendia entrar em contato com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para saber mais detalhes de como será o grupo de trabalho, anunciado pelo BNDES na semana passada por sugestão do ministro Miguel Jorge.

Os dirigentes das montadoras estão animados com a iniciativa do governo de investigar as necessidades da cadeia produtiva de veículos. A Anfavea já vinha preparando o seu próprio estudo para apontar os efeitos da perda de competitividade no exterior, provocada pela valorização do real. Agora a entidade crê que seus argumentos serão ouvidos pelo grupo do BNDES.

Schneider diz que, apesar de registrar recordes de vendas no mercado interno, esse setor não pode abrir mão da exportação. A participação das vendas de veículos para outros países na produção das fábricas instaladas no Brasil caiu de 33% há um ano para 28% no último mês.

No primeiro quadrimestre deste ano, os volumes da exportação do setor caíram 10,6%, num total de 243,2 mil unidades. Isso levou a uma retração menor, de apenas 0,5%, na receita com vendas externas, num total de U$ 3,718 bilhões. Isso ocorre porque em boa parte dos casos os fabricantes reajustaram preços no exterior. Conseqüentemente, houve queda nas vendas externas.

Por outro lado, o setor está produzindo mais do que nunca por conta do ritmo frenético do mercado interno. O presidente da Anfavea acredita que a demanda crescente continua sendo estimulada não apenas pela queda nas taxas de juros como pela confiança do consumidor. "A economia tem muito do fator humano; quando sente segurança, o consumidor assume uma dívida", afirma Schneider.

O primeiro quadrimestre foi o melhor da história da indústria automobilística no Brasil tanto em produção como em vendas domésticas. Isso refletiu no nível de emprego. Com 109,3 mil funcionários o setor atingiu em abril o mais alto nível de emprego desde agosto de 1998.

Em abril, as montadoras produziram 225,6 mil veículos, um crescimento de 10,6% na comparação com o mesmo mês de 2006. No primeiro quadrimestre, o setor produziu 881,4 mil unidades, 5,6% mais do que nos primeiros quatro meses do ano passado.

Segundo o presidente da Anfavea, a fatia das vendas com prestações de mais de 36 meses aumentou de 34% há um ano para 49% em abril. A taxa de juros praticada no setor automotivo recuou de 25,3% em abril de 2006 para 20,7%, no mês passado.

Para Schneider, o consumo interno deve continuar firme nos próximos meses. A inadimplência média do segmento, de 3,3% em abril, continua abaixo da média do crédito para bens duráveis em geral, de 7,1%. É possível até que a Anfavea, que já refez as previsões de vendas no mercado doméstico para cima uma vez este ano, volte a mudar o prognóstico.

A última previsão aponta para um crescimento de vendas internas de 14,5% em 2007 na comparação com 2006, num total de 2,210 milhões de veículos durante o ano todo.

Mas o resultado dos primeiros quatro meses já aponta para a necessidade de refazer as contas mais uma vez. A quantidade de veículos licenciados de janeiro a abril somou 548,7 mil unidades.

Isso representou um avanço de 22,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em abril, as vendas de veículos somaram 179,3 mil unidades, quantidade 36,7% maior do que no mesmo mês de 2006. A média de veículos que passaram pelos órgãos de trânsito diariamente passou de 6,69 mil em abril de 2006 para 8,1 mil, no mês passado.

O segmento dos chamados carros populares, com motor 1.0, continuou liderando as vendas, com participação de 55,7% do mercado em abril. Os modelos com motor bicombustível - que funcionam com álcool ou gasolina - representaram 82,1% das vendas de automóveis em abril.