Título: Etanol a partir de celulose não anima Embrapa
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Agronégócios, p. B12

Considerada fundamental para garantir a demanda de longo prazo por biocombustíveis nos Estados Unidos, a tecnologia de extração do etanol a partir de celulose encontra menos entusiasmo em alguns setores do governo brasileiro. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), principal indutora das pesquisas públicas no setor, acredita que a celulose desempenhará no Brasil um papel diferente do idealizado pelos norte-americanos. Por aqui, o etanol de cana-de-açúcar continuará a ser o principal componente da matriz de biocombustíveis.

Chefe-geral da Embrapa Agroenergia, o agrônomo fisiologista Frederico Durães explica que a necessidade de apostar na ligno-celulose é maior em países de clima temperado. "No clima temperado dos Estados Unidos ou da Europa, é a grande aposta porque a ênfase está na garantia de abastecimento. Lá, eles têm fatores limitantes para a produção de outro tipo de etanol, como o derivado de milho", afirmou. "Em países de clima tropical, como o Brasil, a celulose terá um papel complementar na matriz, ele fará parte do processo".

Responsável por comandar uma equipe de 20 pesquisadores e um orçamento de R$ 100 milhões em 2007, Durães afirma que a celulose funcionará aqui como um condicionador de solos, que auxiliará diretamente na elevação da produtividade agrícola da cana, desde que aliada a técnicas de plantio direto. "Também será um instrumento fundamental para aumentar a co-geração de energia nas usinas e para levar algumas delas a se transformar em empresas de energia". Para ele, após essas funções a celulose servirá à produção de etanol por hidrólise e para garantir o aproveitamento de resíduos gerados por gramíneas, palhadas e restos de culturas. "Estamos interessados? Claro. Aqui é o lugar para a produção de biomassa", disse. "Mas não podemos copiar o modelo porque a decomposição da biomassa no solo é, ao contrário do clima temperado, muito alta por aqui".

Em concorrida palestra ontem, durante a abertura de reunião do Fundo Comum de Commodities das Nações Unidas (CFC-ONU), Frederico Durães apresentou as estimativas atuais para os custos de produção de algumas fontes para biocombustíveis. Segundo ele, um litro de etanol de celulose custaria hoje US$ 1,10. O derivado de cana custa hoje US$ 0,34 por litro. Mesmo o etanol de milho produzido atualmente nos EUA custaria menos: US$ 0,50. "Temos que montar arranjos regionais, onde se produza biodiesel e etanol em todas as regiões do Brasil, preservando a Amazônia e o Pantanal", afirmou. "Temos densidade corporativa para parcerias com fundações e agenda comum com pesquisadores".

Para reforçar sua aposta no etanol de cana, Frederico Durães lembrou que a demanda dos EUA, estimada em 165 bilhões de litros até 2017, poderá ser suprida, em parte, com uma expansão da área cultivada no Brasil para 10 milhões de hectares - hoje, são 6,12 milhões -, o que elevaria a produção de etanol a 40 bilhões de litro até 2015.

"Podemos dobrar a produção com uma área uma vez e meia maior", afirmou. Segundo ele, para atender a 10% da demanda mundial por biocombustíveis, o Brasil poderia expandir em 12% ao ano suas lavouras de cana até chegar a 22 milhões de hectares em 2025. "Ou seja, de forma planejada, poderíamos adicionar um terço da área plantada hoje".