Título: Bradesco amplia lucro do primeiro trimestre em 11%
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Finanças, p. C3

O empréstimo consignado, o financiamento imobiliário e as parcerias com empresas de varejo são as principais apostas do Bradesco neste ano para manter o forte ritmo da expansão da carteira de crédito. No primeiro trimestre, a carteira de crédito do Bradesco, incluindo avais e fianças, cresceu 5,3% para R$ 122,355 bilhões, acumulando expansão de 25,1% em doze meses. Sem considerar avais e finança, a expansão foi de 5,5% no trimestre e de 20,2% em doze meses para R$ 101,473 bilhões. No sistema financeiro como um todo o crédito com recursos livres cresceu 4,2%, acumulando 23,4% em doze meses.

Foi essa expansão do crédito mais o crescente aumento das receitas com seguros, previdência e capitalização e a prestação de serviços que garantiram ao Bradesco o lucro líquido de R$ 1,705 bilhão no primeiro trimestre. O resultado ficou 11,44% acima do lucro líquido recorrente de R$ 1,530 bilhão do primeiro trimestre de 2006 e também acima dos R$ 1,609 bilhão do lucro daquele período sem os efeitos das amortizações de ágios de aquisições que marcaram o balanço do Bradesco de 2006.

Os resultados vieram em linha com as expectativas do mercado mas as ações preferenciais do Bradesco tiveram alta de 1,3% para R$ 46,10, superando bem a queda de 0,62% do índice Bovespa no dia de ontem.

O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, acredita que o crédito repetirá nos próximos trimestres o desempenho do primeiro. "Se a economia crescer de 4,1% a 4,2%, a carteira de crédito vai aumentar de 20% a 25% neste ano", disse Cypriano afirmando que o país atravessa um dos melhores momentos do últimos dez anos. Segundo o banqueiro, nem o câmbio apreciado conturba o cenário. "Se a gente olhar os balanços, verá que todas as empresas, com exceção de algumas como as do setor calçadista, estão ganhando dinheiro. É um desafio achar dez empresas com prejuízo", afirmou.

O retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 30,2%, levando o vice-presidente Milton Vargas a lembrar que é o décimo trimestre consecutivo em que o retorno fica acima dos 30%.

Cypriano afirmou esperar o aumento da concorrência no sistema financeiro, inclusive como resultado das negociações internacionais envolvendo o ABN AMRO, que terão reflexos no mercado brasileiro.

Apesar disso, uma das metas do Bradesco é aumentar em 2,5 milhões a base de clientes. Atualmente, o banco possui cerca de 16 milhões de clientes de varejo.

As estratégias para isso sinalizam a ênfase em operações de crédito de varejo, notadamente o consignado, o financiamento ao consumo e o crédito imobiliário.

O Bradesco, segundo Cypriano, quer ser o líder do consignado e, para isso, adquiriu neste ano o Banco BMC. A carteira de consignado do banco - sem incluir as operações do BMC - cresceu 11,5% no trimestre, acumulando 75,4% em doze meses, para R$ 1,612 bilhão, representando 39% da carteira de crédito pessoal. Segundo Cypriano, há espaço para crescer mais uma vez que no sistema financeiro o consignado representa cerca de 55% do crédito pessoal.

Outra linha de frente é ampliar as parcerias com empresas do varejo, que fornecem cadastros de clientes aos quais é possível oferecer crédito com mais segurança. "O acesso a um histórico dá mais confiança do que caçar clientes no laço, nas agências", disse Vargas.

Só o acordo com as Casas Bahia, por exemplo, já permitiu ao Bradesco conceder 3,5 milhões de cartões de crédito. "O cartão sempre foi objeto de desejo da baixa renda", disse Cypriano.

O Bradesco já tem parceria com 23 redes de varejo atualmente e outras seis estão no forno para "os próximos meses".

Se a carteira de crédito de pessoas físicas do Bradesco cresceu 5,1% no trimestre e 16,5% no ano; a de grandes empresa mostrou uma recuperação, aumento de 8,2% no trimestre e 18,6% no ano; e a de empresas médias e pequenas cresceu 3,3% e 27,5%, respectivamente.

Cypriano afirmou que a expansão das operações com grandes empresas é resultado de operações pontuais uma vez que os clientes desse segmento cada vez mais preferem captar recursos no mercado de capitais. Entre essas operações pontuais citou o empréstimo de R$ 1,1 bilhão feito a minoritários da Usina Vale do Rosário para financiar a consolidação com a Santa Elisa. Seria uma espécie de empréstimo-ponte até a empresa definir-se por uma emissão de debêntures ou uma abertura de capitais. O empréstimo tem dois anos de prazo e liquidações parciais.

A expansão das operações de crédito consignado influenciou positivamente a qualidade dos ativos. Os créditos classificados entre AA e C, as melhores qualificações na escala de nove degraus do Banco Central, somaram o equivalente a 92,2% da carteira, um pouco mais do que os 92,1% do quarto trimestre mas ainda menos do que os 92,8% de igual período de 2006. Ainda assim, o banco aumentou em 23,61% as despesas com provisões, elevando em 27,47% o saldo.

Outra aposta do Bradesco é o crédito imobiliário, que "fideliza o cliente", disse Vargas. O banco quer liberar R$ 3 bilhões nessa linha neste ano em comparação com R$ 2,1 bilhões em 2006.