Título: Real amplia parcerias no microcrédito
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, Finanças, p. C4

Mesmo com o forte avanço do crédito nos últimos anos, o segmento de microfinanças ainda não apresenta um desempenho satisfatório nas instituições brasileiras. O banco Real, um dos líderes desse setor, aposta em novas parcerias para crescer mais de 200% o número de clientes neste ano, pulando de 17 mil para 55 mil. A carteira deve passar dos atuais R$ 20 milhões para a casa dos R$ 80 milhões.

Os acordos, mais de dez, são com empresas como Unilever e Brastemp para fornecer microcrédito para comunidades carentes ligadas aos projetos sociais dessas companhias, ou para financiar os pequenos fornecedores ligados as cadeias produtivas, como nos casos da Dupont, Vipal e da Assai Atacadista.

O banco fechou também parceria com a Serasa para desenvolvimento de um sistema de cadastro para facilitar a concessão e elevar a produtividade dos agentes de crédito. Hoje é necessário o preenchimento de uma ficha socioeconômica de quatro páginas antes da liberação dos recursos e cada agente fica responsável por até 500 empréstimos. Com a nova metodologia, poderão atender até 1000 pessoas.

Existem ainda conversas com organismos multilaterais, como o Banco Mundial, para programas de treinamento de microempresários. Essas mudanças vieram depois que o banco precisou remanejar a carteira, que atingiu uma inadimplência de 35%. Hoje, a taxa está em 12%, e em queda, ressalta o superintendente executivo do banco, José Giovani Anversa.

"Com os resultados positivos que tivemos, achamos que o negócio fosse igual ao banco e a inadimplência disparou", lembra. Anversa explica que a grande falha foi reduzir a importância do agente de crédito, responsável não só pela concessão, como pelo acompanhamento do negócio do cliente. "Ele funciona como um consultor, já que os clientes não têm planejamento e as finanças se confundirem com as contas pessoais", explica.

Se for para pagar contas, por exemplo, os empréstimos não são concedidos. "O dinheiro deve ser usado para ampliar estoque, para elevar a produção e conseguir reduzir os preços dos produtos", enfatiza o executivo.

Além disso, a capacidade de pagamento desses clientes muda muito rápido. Como a taxa de renovação está em torno de 70%, os agentes precisam avaliar constantemente como está o negócio para saber se houve melhoria.

Hoje, 160 agentes atuam pelo Real, avaliando empréstimos que vão de R$ 200 até R$ 10 mil. Alguns casos as renovação chegam a R$ 40 mil. O valor médio do empréstimo é de R$ 1,4 mil, com prazo médio para pagamento de 10 meses e taxas que variam entre 2% e 4% ao mês.

Segundo estimativas do Ministério do Trabalho, existem cerca de 14 milhões de microempresários, mas os bancos atendem a apenas um milhão deles. "Queremos atender 500 mil microempresários até 2010", afirma. Em todo o mundo, o ABN AMRO atende 350 mil pessoas.

Desde 2003, os bancos são obrigados a emprestar 2% dos saldos captados em contas correntes. Segundo dados do Banco Central, o saldo destinado a microempresários era de R$ 217 milhões em fevereiro.