Título: Um fundo para chamar de seu
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2007, EU & Investimentos, p. D1

Com o movimento crescente de empresas indo a mercado e seus sócios embolsando grandes volumes de recursos, cresce com rapidez o total de fundos exclusivos para clientes de alta renda nos chamados private banks. Dados do site financeiro Fortuna mostram que o número de Fundos de Investimentos em Cotas (FICs) - a forma como essas carteiras são constituídas - saltou de 1.549 no fim de 2004 para 2.361 hoje. O patrimônio administrado nessas carteiras é de R$ 126 bilhões - mais do que o dobro do início de 2005.

Nesse grupo, encontram-se também os fundos destinados ao varejo, que, embora signifiquem boa parcela desse patrimônio, representam muito menos dessa disparada do número de fundos nos últimos trimestres.

Tratam-se de carteiras que investem em diversos tipos de fundos multimercados, com a flexibilidade de poder negociá-los a qualquer momento, pagando a menor alíquota de imposto de renda (15%) se os recursos permanecerem no fundo-mãe por mais de dois anos. Do lado da demanda, há excesso de recursos a serem investidos, vindos principalmente de operações no mercado de capitais ou de fusões e aquisições. Depois de um negócio desse tipo, por exemplo, empresários e suas companhias ficam algum tempo - senão permanentemente - com o dinheiro aplicado no mercado até reinvestirem no setor produtivo.

Esse crescimento também tem origem no recuo recente da taxa básica de juros - hoje em 12,5% ao ano - que leva mais investidores aos multimercados. Muitos recursos têm migrado de carteiras mais conservadores para os FICs de multimercado, diz Gilberto Kfouri, diretor de investimentos do BNP Paribas.

Para participar desse pequeno círculo da fortuna, os investidores, em geral, são aceitos em fundos exclusivos (não necessariamente exclusivos nos termos da Comissão de Valores Mobiliários) pelos privates para investir a partir de R$ 1 milhão. Mas o dono de um fundo particular perde a vantagem de dividir os encargos da carteira com outros cotistas, o que eleva seu custo. Por isso, Márcio Appel, diretor executivo do Santander Asset Management, diz que esses fundos são opção principalmente para quem tem mais de R$ 5 milhões a aplicar, patrimônio a partir do qual os custos ficam diluídos.

Segundo o site Fortuna, um quarto do patrimônio dos FICs está em carteiras que têm entre R$ 1 milhão e R$ 7 milhões. Outros 25% têm entre R$ 7 milhões e R$ 12 milhões. E os 50% restantes, mais que disso. Antes da criação da conta-investimento, esses fundos eram formados com vistas a driblar a CPMF, mas, atualmente, outros aspectos estão no foco desses cotistas.

A maior vantagem em formar um fundo próprio, além da tributária, é consolidar todas as posições e administrar o risco da aplicação de uma forma única, diz Rodrigo Xavier, responsável pela UBS Pactual Asset Management. Tudo é discutido, principalmente taxa de administração, prospecto e política de risco. "Gerimos os recursos de acordo com esses parâmetros", diz Xavier, acrescentando que as carteiras particulares que cuida têm em geral patrimônio acima de R$ 5 milhões.

Os fundos multimercado exclusivos, dependendo da carteira, também podem ter carência para saques. Isso ocorre porque, atualmente, são minoria no mercado as carteiras de multimercados que oferecem liquidez diária. O gestor, portanto, ao formar um FIC, pode exigir que conste do prospecto um período de carência para resgates.

Kfouri, do BNP Paribas, explica que, quando contratado para gerir um fundo personalizado, segue unicamente o prospecto para fazer as aplicações, sem aceitar interferência posterior do cotista. Os gestores são enfáticos em afirmar que não atuam como "barriga de aluguel", para quem quer apenas a vantagem tributária do fundo, dispensando a gestão especializada. Há boas razões para isso: a CVM impede que pessoa não registrada na autarquia atue como gestor de fundos.

Por meio de um fundo personalizado no modelo FIC, o investidor costuma ter posições também em diversas outras instituições. Nada impede, por exemplo, que determinado fundo de uma gestora aplique numa concorrente, se isso estiver previsto em prospecto. Ao contrário, sua razão de ser tem base na diversificação de fundos e gestores.

Os endinheirados também olham como fator positivo o fato de que, ao operarem por meio de um FIC, ficam anônimos no mercado. Não tem, assim, de abrir suas contas a diversas entidades.

Há, nessa estratégia, outra vantagem tributária, à medida que se compensa a eventual perda de um fundo com o lucro de outro, pagando apenas o imposto sobre o ganho total da carteira, explica Gaspar Gasparian, consultor da Sankt Gallen. Da mesma forma, fica mais fácil compensar o IR de um ganho, quando ocorre a recuperação de uma perda no mesmo fundo. Ou seja, se o aplicador investe R$ 1 milhão e seu patrimônio vai a R$ 900 mil, até que recupere o valor aplicado, o rendimento é isento. Normalmente, porém, só é isenta a recuperação de prejuízo no mesmo fundo ou em carteiras de uma mesma instituição.

Além de investir em outros fundos, o FIC multimercado pode ter até 5% do patrimônio em quaisquer ativos, como CDBs.

Apenas neste ano, sócios de empresas colocaram no bolso R$ 7,8 bilhões em ofertas secundárias de ações, segundo a CVM. Isso significa mais dinheiro nas mãos de pessoas físicas a serem aplicados no mercado. Também a exuberância das ações, em alta pelo quinto ano consecutivo, e o maior pagamento em dividendos pelas empresas abertas aumentam a liquidez do mercado. Isso motiva investidores a criarem seus fundos exclusivos. "Há um crescimento de riqueza muito importante", diz Leopoldo Barreto Júnior, da Arsenal Investimentos, que faz a gestão de FICs desse tipo. Há até concorrência de casas querendo montar fundos exclusivos, dizem outros gestores.