Título: Puxada por veículos, atividade também sobe em mais setores
Autor: Martins, Arícia; Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2013, Brasil, p. A3

O bom resultado esperado para a produção industrial de janeiro - com alta estimada entre 1% e 2% em relação a dezembro na série com ajuste sazonal - foi bastante influenciado pelo forte aumento da produção de automóveis, mas economistas também veem sinais de um crescimento um pouco mais espalhado. Além disso, os analistas observam que problemas pontuais que afetaram negativamente o início de 2011 agora "conspiram" no sentido inverso. A produção de caminhões deu um salto em janeiro e a expectativa é que o setor agrícola, que tirou 0,4 ponto percentual do PIB do primeiro trimestre de 2012, agora colha boas safras de soja e arroz. Os sinais para o investimento também parecem indicar recuperação, como as expressivas consultas ao BNDES no fim do ano passado.

Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, estima alta forte da indústria em janeiro, superior a 1,5%, mas não acredita que esse ritmo vai se manter nos próximos meses, já que ainda é um incógnita qual será a reação das vendas e da produção com a recomposição gradual da alíquota de IPI para veículos e linha branca. "Por isso, é difícil afirmar que o resultado de janeiro será extrapolado para os próximos meses, continuaremos a observar volatilidade, como ocorreu no segundo semestre."

Ainda assim, diz Leal, o primeiro trimestre parece ter contornos mais positivos e o economista trabalha com estimativa de alta de 1% para o Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, em relação aos últimos três meses de 2012. Questões pontuais que atrapalharam o desempenho no início do ano passado agora podem contribuir positivamente. É o caso da produção de caminhões, que recuou fortemente no primeiro trimestre de 2012, depois da adoção do padrão Euro 5 para motores, e prejudicou a Formação Bruta de Capital Fixo.

Apenas em janeiro, a fabricação desses veículos saltou 269,5% em relação a janeiro de 2012 (por causa da base muito fraca de comparação), mas a perspectiva é que o investimento volte a subir nos três primeiros meses desse ano. Leal destaca que números mais positivos no início do ano são ainda mais importantes porque podem contribuir para reverter a atmosfera negativa que se formou em torno da economia brasileira.

Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, concorda. O economista projeta alta de 0,7% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em janeiro. Para ele, a retração de 0,5% das vendas no varejo restrito em dezembro foi atípica e o segmento deve ter voltado a crescer no primeiro mês deste ano. Ajudado pela contribuição positiva do setor agrícola, o economista avalia que o primeiro trimestre mostrará crescimento superior a 4% em termos anualizados. "O momento da recuperação está um pouco atrasado em relação ao que imaginávamos no fim do ano passado, mas é uma notícia alentadora."

O economista-chefe da BB-DTVM, Marcelo Arnosti, também é mais otimista. Em parte, diz ele, a alta mais significativa do setor industrial na abertura do ano pode ser uma correção do dado ruim do fim de 2012, quando a atividade ficou estável ante novembro. Mas Arnosti também espera alguma reação dos investimentos, o que vai contribuir para que no primeiro trimestre deste ano a indústria tenha desempenho melhor do que no fechamento do ano passado.

Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, que espera alta de 1,6% na produção industrial em janeiro, estima que haverá continuação da retomada da indústria, mas de forma bem mais gradual, com alta mensal de 0,4%, em média, da produção até dezembro. Menos otimista com os prognósticos para o ano, Alessandra diz que a projeção da consultoria para o aumento de produção em 2013, de 3,2%, já está sob viés de baixa. "O setor de veículos chega a puxar a produção de bens intermediários, mas no mês seguinte há uma devolução. Por não ser uma alta generalizada da produção, não se sustenta."

Em dezembro, menos da metade dos ramos industriais pesquisados pelo IBGE cresceram. O percentual de setores que elevaram sua produção em relação a novembro foi de apenas 44,4%. Para Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners, a fatia desses setores pode aumentar em janeiro, com alta acima de 1% do dado geral de produção, o que não sinaliza, no entanto, um cenário de retomada mais consistente para a indústria.

"O dado forte pode ter ocorrido somente por causa de reversão de indicadores ruins do fim do ano e de uma recomposição de estoques na indústria", diz Rocha. Ele lembra que, antes das variações expressivas observadas no primeiro mês do ano, o fluxo pedagiado de veículos pesados e a expedição de papel ondulado haviam recuado 0,8% e 1,5% entre novembro e dezembro, respectivamente, e também haviam mostrado comportamento ruim em novembro.

Outro movimento que pode estar por trás da produção maior de janeiro, na avaliação de Rocha, é um processo de recomposição de estoques da indústria, liderado pelo setor automotivo, que no ano passado teve seus inventários reduzidos com a isenção do IPI. Em dezembro, as montadoras acumulavam nos pátios 51,5 mil unidades, número que chegou a alcançar 199,5 mil veículos em maio do ano passado, antes da redução de IPI, de acordo com série construída pela Tendências com base em dados da Anfavea, entidade que reúne montadoras instaladas no país. Quando a produção aumenta apenas para ajustar o nível de estoques, afirma o analista, variações muito acentuadas costumam não mostrar muito fôlego.