Título: Mais categorias param para pedir plano de cargos e salários
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2007, Brasil, p. A4

A tendência das greves do funcionalismo público durante o primeiro mandato do governo Lula foi de aumento das reivindicações por implantação ou revisão de Planos de Carreiras. Em 2004, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio-econômicos (Dieese), essa demanda fazia parte de 32% dos movimentos grevistas. Em 2005, a participação passou para 41%, e no primeiro semestre de 2006 foi citada em nada menos que 78% das greves.

O reajuste salarial continua como um grande motivador de paralisações. Das greves realizadas por funcionários públicos, 74% continham essa demanda na pauta de reivindicações nos primeiros seis meses de 2006. Esse número também cresceu um pouco em relação aos 69% registrados em 2004.

Entre os empregados de empresas estatais, a reivindicação por participação nos lucros e resultados (PLR) esteve presente em três das sete greves registradas pelo Dieese no primeiro semestre de 2006, ou seja, uma participação de 43%. Em 2004, a reivindicação fez parte de apenas 22% dos movimentos grevistas desse grupo. Entre eles, a melhoria nos salários também é uma demanda dominante, estando presente em 55% das greves do primeiro semestre de 2006. Em 2004, o pedido por reajuste salarial foi mais expressivo - 70% das greves foram relacionadas a essa demanda.

De 2004 para cá, os governos federal, estaduais e municipais enfrentaram 460 greves, sem considerar o segundo semestre de 2006, segundo estudo do Dieese. Entre elas, houve algumas bastante expressivas, como a campanha salarial unificada dos servidores paulistas, a greve de 91 dias dos servidores da Justiça do Estado de São Paulo e a greve geral da União, todas em 2004.

Em 2005, foi a vez de grandes empresas públicas, como Petrobras e Correios, enfrentarem paralisações de seus trabalhadores. Junto a pautas tradicionais, esse servidores carregaram bandeiras políticas como o protesto contra a rodada de leilões de campos da Petrobras de petróleo e gás, e o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar denúncias de corrupção nos Correios. Outra greve que atingiu a administração federal foi a dos funcionários da Receita Federal, contra a fusão do órgão e da Receita Previdenciária, oficializada, por fim, no último dia 3.

O ano de 2006 foi marcado pelas manifestações dos controladores de vôo. O acidente de avião da Gol em setembro daquele ano, foi o estopim de uma crise que segue até hoje. Após a tragédia, os controladores começaram a protestar contra as suas condições de trabalho, mas por ser uma carreira também militar, parte deles são proibidos de fazer greve. Mesmo assim, a mobilização provocou atrasos de vôos em todo o país. Em março desse ano, porém, uma greve foi declarada, decisão que poderá levar à condenação dos controladores segundo a lei militar.

Os bancários, categoria que une trabalhadores privados e públicos, realizaram greves nos três anos, sempre por reajustes salariais e maior participação em lucros e resultados. Em 2004 ocorreu a paralisação mais longa - a greve se arrastou do meio do mês de setembro até o começo de outubro.

Atualmente, o governo federal enfrenta duas grandes mobilizações: na Polícia Federal e no Banco Central (BC). Os policiais federais aguardam até amanhã por um posicionamento do governo sobre o pagamento de um reajuste de 30%. O governo já reconheceu que deve o reajuste, mas falta definir a forma de pagamento. No BC, a greve foi iniciada na última quinta-feira, com a paralisação de 28% dos funcionários. Eles querem se equiparar aos ganhos dos funcionários da Receita Federal. O governo prometeu a equiparação em duas etapas: aumentaria uma parte em janeiro de 2008 e a segunda um ano depois. Os servidores do BC discordam e esperam nova rodada de negociações.