Título: Ford do Brasil volta ao azul após acumular prejuízos por uma década
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2005, Empresas, p. B1

O presidente do conselho da Ford, William Ford, ou Bill, afirma que a montadora no Brasil já é uma operação rentável. "Levamos muito tempo, mas nós já conseguimos alcançar a rentabilidade no Brasil", disse o executivo ao Valor durante entrevista a um reservado grupo de jornalistas na abertura do North American International Auto Show (Naias), o salão do automóvel de Detroit. Sem revelar, no entanto, os números do resultado financeiro do ano passado, o executivo aponta o desempenho da equipe administrativa da operação no Brasil e América do Sul como a fórmula da reviravolta na filial da companhia, que vinha sofrendo prejuízos desde seu casamento com a Volkswagen, a Autolatina, no fim da década de 80. Com a criação do terceiro turno de produção, a fábrica de Camaçari, na Bahia, um dos impulsos à recuperação da rentabilidade no Brasil, aumentou a produção em 41,26% no ano passado. Não é apenas a América do Sul que deixa Bill Ford satisfeito. Mas também o resultado global da companhia. Há três anos, esse executivo de 44 anos decidiu arregaçar as mangas e assumir o comando de uma reestruturação necessária para reerguer a empresa que ele herdou do bisavô, Henry Ford. Para eliminar os prejuízos, Bill dispensou executivos de peso, como Jacques Nasser, e lançou um programa de enxugamento de custos que envolveu demissões e fechamento de fábricas nos Estados Unidos. "Conseguimos transformar uma empresa doente em uma rentável", destaca. Bill demonstra hoje segurança. Ao contrário de três anos atrás, o herdeiro de Henry Ford circula pelo salão do automóvel e cumprimenta a todos com muito mais desembaraço. Mas ao conceder a entrevista, ele não abre mão de ter ao lado o seu braço direito, James Padilla, que ocupa o principal cargo executivo e que será, em fevereiro, promovido também a diretor mundial de operações. Além do enxugamento de custos, a segunda maior montadora do mundo renovou a gama de produtos. E Bill atribui a essa renovação boa parte do avanço da operação. Padilla lembra que 60% dos modelos Ford que estão hoje nos show rooms dos Estados Unidos foram lançados há menos de 18 meses. Para Bill, um dos maiores desafios de um fabricante de veículos como a Ford hoje é ter linhas de produção flexíveis e conseguir desenvolver tecnologias para garantir cada vez carros mais seguros e limpos. "O meu bisavô sempre defendeu o automóvel como melhor meio de transporte para o mundo", lembrou o bisneto do homem que há um século inventou o sistema de linha de montagem para a fabricação de veículos para tentar tornar os veículos mais acessíveis. Como manufatura flexível, Bill Ford entende a capacidade de desenvolver produtos para mercados diferentes e colocá-los na mesma linha de montagem. Com isso, lembra, ganha-se em custo, escala e, consequentemente, competitividade. Segundo ele, uma das estratégias da companhia hoje é aumentar volumes em regiões emergentes como Ásia e América do Sul e elevar o faturamento em mercados já maduros, como Estados Unidos e Europa. Assim como a General Motors, a Ford também enfrenta até hoje o problema dos altos custos com aposentadorias e assistência médica aos aposentados. Bill diz que a empresa vem negociando a questão da assistência médica com o governo. "De modo geral, tudo o que temos feito está certo", destaca o executivo. "De minha parte, eu estou comprando mais ações porque acredito no que estamos fazendo", completa.