Título: Mais de mil roubos a cada hora no país
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 16/12/2010, Brasil, p. 10

Pesquisa mostra que metade das ocorrências nem sequer chega às delegacias. Principal razão é a descrença no trabalho da polícia

Quase 13 milhões de pessoas são vítimas de furtos e roubos anualmente no país. A cada dia, um total de 35 mil brasileiros. Apesar da alta frequência desse tipo de crime, mais da metade das ocorrências não chegam ao conhecimento das autoridades policiais. Entre os principais motivos está a descrença na polícia, apontada por 36% dos que já foram roubados e por 23,1% da população que sofreu algum furto, mas não registrou o fato em delegacias. Sociólogo da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Flávio Testa diz que há um problema de relacionamento entre as instituições e a sociedade, mas também aponta a importância de se fazer o boletim de ocorrência.

¿É bom do ponto de vista administrativo porque se a polícia não sabe onde ocorre o crime, não há como fazer um planejamento adequado. Não adianta termos, de um lado, uma população que sofre abusos mas é leniente e, de outro, uma polícia sem informação, sem dados¿, destaca Testa. Na avaliação do delegado Érito Pereira da Cunha, da Delegacia de Repressão a Roubos do DF, aqui existe uma confiança das pessoas na polícia. ¿Talvez isso explique termos um dos mais altos índices de ocorrências registradas do país, proporcionalmente à população¿, diz.

Segundo o delegado, atitudes simples poderiam evitar assaltos. ¿Perceba quantas pessoas descem do ônibus ao celular, totalmente dispersas e já mostrando um bem. Outros saem do banco contando o dinheiro. A verdade é que a maior parte das vítimas, infelizmente, se coloca em situações de risco¿, acredita Érito. Para o período das férias, quando os assaltos a casas aumenta muito, a dica do delegado é pedir ajuda aos vizinhos. ¿Deixar a luz acesa direto, como muitos fazem, só sinaliza ao bandido que não tem ninguém naquela residência. Da mesma forma, deixar o jornal e as correspondências acumuladas no quintal e na caixa, a calçada suja. Nessa horas, vale pedir ajuda de um vizinho¿, recomenda.

Para Maria Antônia Tavares da Silva, que mora numa casa na Asa Sul há cinco anos, onde trabalha como babá, o assalto felizmente terminou bem. ¿Ao ver que o bandido estava com um celular como se fosse revólver, reagi. Sei que não deveria ter feito isso, mas foi no impulso¿, conta a maranhense de Poção de Pedras. Depois do ocorrido, nas imediações de onde reside, a babá de 30 anos passou a ter mais cuidados.

Atrás do portão pintado com a bandeira do Brasil cujas únicas aberturas estão em uma espécie de persiana, ela conta que faz de tudo para não ter que atender pessoalmente ninguém que toca o interfone da casa. ¿Tento despachar lá de dentro¿, diz. Olhar para os lados antes de sair e entrar de casa é outra precaução tomada por Maria Antônia. ¿Aqui já foi assaltado, então todas as janelas agora têm grade, precisamos ter atenção.¿