Título: Febre imobiliária puxa o consumo de cimento no país
Autor: Durão, Vera Saavedra e Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2007, Empresas, p. B8

A indústria de cimento brasileira, que amargou anos de vacas magras - de 2003 a 2005 - espera repetir a recuperação das vendas e o consumo interno do ano passado em 2007. A aposta recai sobre a retomada da construção civil, principalmente no segmento imobiliário, e em obras de infra-estrutura.

No primeiro bimestre, o consumo aparente cresceu 3,12%, com produção e consumo na faixa de 6 milhões de toneladas no período. No ano, a expectativa do setor é de crescer pelo menos 5%. A previsão é cautelosa, como em 2006, quando a demanda subiu 8,3% e o país demandou 39,5 milhões. O volume é o maior desde 2000.

"Mesmo assim, ainda ficamos aquém de 1999, marca recorde da indústria, com 40 milhões de toneladas. Nossa previsão para 2007 é conservadora e poderá ser revista se avançarem as obras de infra-estrutura anunciadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)", afirma José Otávio Carneiro de Carvalho, secretário -executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC).

As expectativas do setor são de que este ano o motor do seu crescimento ainda será o mercado imobiliário, bem aquecido por medidas de crédito do governo e pelo aumento de novos projetos destinados à classe média alta nos grandes centros. Carvalho destaca que se a indústria crescer 5% este ano vai chegar a 42 milhões de toneladas, novo recorde. "Será nosso maior volume histórico".

As 58 fábricas de cimento operando hoje no país têm capacidade para produzir 62 milhões de toneladas, mas trabalham com ociosidade na faixa de 40%. "Temos capacidade para atendera demanda interna se o país voltar a crescer a 5% ao ano. Não será por falta de cimento que ele deixará de avançar. Mas, o PAC ainda não andou e o problema é o tempo das medidas anunciadas entrarem em vigor."

Para o SNIC, a ausência de obras de infra-estrutura é o que explica o baixo consumo de cimento no Brasil, de 194 quilos per capita em 2005. Em países como França e Itália, chega a ser três vezes maior. Na China é de 800 quilos por habitante, informa Carvalho. Ele chama a atenção para os países "prontos" ou com crescimento forte, como a China - 40% do consumo ocorre na infra-estrutura. No Brasil, esse índice é de 18%, bem abaixo.

Para o executivo, a infra-estrutura é fundamental para as cimenteiras ampliarem a participação das obras de construção pesada no consumo do produto. Também é importante a continuidade do programa de habitação.

Atualmente, o foco da construção civil está em projetos para a classe média baixa. Para a população mais pobre, com renda até três salários mínimos, há forte dependência de subsídios do governo e recursos a fundo perdido. "Os governos teriam de ter programas habitacionais para atender esta população", afirma.

Segundo Carvalho, está desmistificado o fato de que o "consumo formiga" de cimento é impulsionado pelos pobres. Caracterizado por obras feitas pelos próprios moradores, o "formiga" inclui construções de mutirão ou ampliação e reformas de residência e tem peso de 23% no consumo total. Pesquisa do SNIC mostrou que 70% do chamado "consumo formiga" está nas classes de renda mais alta.

De acordo com o executivo, que nega existência de cartelização de preços entre as cimenteiras, o produto brasileiro tem o mais baixo nas Américas. O preço médio da tonelada na fábrica (sem frete) está na faixa de US$ 60 a US$ 65. Nos EUA chega a US$ 100. No ano passado, subiu entre 30% a 40% por causa da bolha imobiliária. Em alguns mercados, como o de Minas Gerais, chegou a valer US$ 47.

O cimento, segundo Carvalho, é cotado a preços diversos em cada lugar por conta do frete. Em alguns casos, têm valores próximos, mas não necessariamente iguais.

Apesar desse cenário, há anúncios de novos investimentos. O grupo Votorantim tem projeto de uma fábrica em Tocantins e a CSN prevê inaugurar sua moagem em Volta Redonda em março de 2008.

As exportações do país ainda são tímidas, mas vêm crescendo. Em 2006, alcançaram 1,04 milhão de toneladas, aumento de 13%.