Título: Haddad critica gestão Kassab em São Paulo
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2013, Política, p. A10

Um dia depois de militantes do PT vaiarem o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) em evento partidário, o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), reforçou ontem as divergências em relação a seu antecessor e apontou indícios de corrupção em áreas da prefeitura. Haddad criticou também a gestão Kassab por ter suspendido contratos em setores estratégicos, depois de sua vitória na disputa eleitoral no ano passado. "Muitos contratos tiveram de ser retomados. Depois da eleição, foram paralisados", afirmou ontem, em entrevista à rádio CBN.

Ao apontar problemas herdados, Haddad disse que sua gestão investiga casos de corrupção em outorgas onerosas, pagas por empreiteiras para construir edifícios acima do limite estabelecido pela prefeitura. "Há indícios de que tenha havido desvio de recursos para dar a incorporadoras o potencial construtivo", disse. Segundo o prefeito, o volume de recursos desviados é significativo. A Controladoria-Geral do Município está fazendo uma "apuração fina" nos contratos.

Haddad reclamou do modelo de inspeção veicular da gestão Kassab e disse que o programa foi "um tiro no pé", "um equívoco". O foco das críticas do prefeito foi o contrato com a Controlar, responsável pela inspeção veicular na cidade. "São pessoas sem o menor espírito público. Estão interessados obstinadamente nesse contrato, em manter esse caça níquel", afirmou, depois de comentar que sua equipe se reuniu com representantes da empresa em janeiro para tentar mudar o contrato. "É uma empresa ficha suja, para dizer o mínimo. Já foi condenada em segunda instância, em processo iniciado pelo Ministério Público", disse.

A prefeitura abriu três processos administrativos para tentar romper o contrato com a Controlar. O prefeito apontou fraudes, argumentou que o prazo do contrato já venceu e disse que há um decreto municipal impedindo o governo de manter contrato com empresa condenada em segunda instância.

A assessoria da Controlar, por meio de nota, disse que, em relação às ações judiciais em curso, "já prestou todas as informações que respaldam a legalidade e a plena vigência do contrato ao Judiciário". Afirmou ainda "acreditar no fiel cumprimento do contrato".

A assessoria de Kassab não comentou o contrato da prefeitura com a Controlar. Sobre a crítica de Haddad de que contratos teriam sido interrompidos, a assessoria disse que Kassab "após as eleições iniciou processo de transição com total transparência para que o governo eleito tivesse acesso a todas as informações necessárias para garantir que serviços, programas, contratos e obras em andamento não sofressem interrupções".

Corregedor-geral do município na gestão Kassab, Edilson Mougenot Bonfim disse ter investigado "todos os indícios [de corrupção] que foram possíveis ser identificados" nas outorgas onerosas e encaminhou as denúncias ao Ministério Público. "Com isso, mais de 20 pessoas foram processadas e muitos foram exonerados. Conseguimos reaver aos cofres públicos os recursos desviados nesse esquema", afirmou. "Fizemos um trabalho hercúleo, sério e melhoramos o controle financeiro. Não acobertamos nada", defendeu-se.

As críticas feitas ontem por Haddad à gestão Kassab se somam a outros problemas já apontados pelo petista, colocando fim à lua de mel que marcou a transição. Nesta semana, o prefeito disse estar "indignado" com a rede "sucateada" de semáforos deixada pelo antecessor. Na área de educação, a prefeitura encontrou problemas nos contratos de compra de material escolar, de uniformes e de leite. Na secretaria responsável pela varrição, Haddad disse que não havia articulação na limpeza de ramais, galerias e bocas de lobo, serviços essenciais para evitar enchentes. O petista contestou também a falta de convênios com o governo federal.

Na entrevista concedida ontem, Haddad detalhou o projeto de lei que enviou ao Legislativo para reformular a inspeção veicular e disse que o reembolso da taxa não será para todos. O projeto prevê que os veículos licenciados fora da capital e que circulem pelo menos 120 dias na cidade terão que fazer a inspeção. No entanto, os donos desses veículos não serão ressarcidos. Segundo o prefeito, só terão direito ao reembolso quem paga o IPVA em São Paulo e que não tiver dívida com a prefeitura. Além disso, veículos reprovados no teste não serão ressarcidos.