Título: Italianos vão às urnas rejeitar austeridade
Autor: Saccomandi, Humberto
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2013, Internacional, p. A11

Contêiner de lixo em Roma pichado com a frase "Cabine eleitoral. Vote aqui"; italianos vão às urnas domingo e segunda

Nos últimos 20 anos, a Itália mudou várias vezes sua lei eleitoral para tentar favorecer um bipartidarismo, como nos EUA, com um partido ou coligação de esquerda e um de direita. Neste domingo, os italianos vão às urnas tendo de escolher entre mais de 70 partidos, reunidos em umas 20 coligações, algumas apenas regionais. Dessa fragmentação política espera-se que saia um governo estável, que governe em meio a uma recessão econômica e que aprove corte de gastos públicos e reformas impopulares. Não será fácil. O risco é a que a instabilidade política agrave ainda mais a crise econômica.

A votação, para renovar o parlamento, ocorre no domingo e na segunda-feira. A partir do resultado, será formado um novo governo.

As pesquisas de intenção de voto, cuja divulgação está proibida há duas semanas, sugerem que a coligação de centro-esquerda, liderada pelo Partido Democrático, deve ter maioria na Câmara dos Deputados. Com isso, o líder do PD, Pier Luigi Bersani, deve se tornar o novo primeiro-ministro. Mas nenhuma coligação terá maioria no Senado.

Em segundo lugar, seis pontos atrás segundo o instituto Ipsos, está a coligação de centro-direita liderada pelo Povo da Liberdade, partido do ex-premiê Silvio Berlusconi. O Movimento 5 Estrelas, um partido de protesto liderado pelo humorista Beppe Grillo, está em terceiro, e pode obter entre 16% e 20% dos votos. O bloco centrista liderado pelo atual premiê, Mario Monti, deve ficar em quarto.

Mas as diferenças são pequenas e, poucos dias antes das eleições, ainda havia milhões de indecisos, de modo que a disputa eleitoral ainda parece estar aberta.

A Itália está em recessão. Em 2012, o PIB caiu 2,7%. Este ano, a previsão é de nova queda. Houve contração no gastos dos consumidores, das empresas e no gasto público. Segundo muitos na Itália, a recessão foi causada ou ao menos agravada pela política de austeridade implementada pelo premiê Monti, sob pressão da União Europeia, principalmente da Alemanha. Essa política está sendo agora rejeitada pelos eleitores italianos.

Mas há sinais positivos. O déficit público italiano em 2012 foi um dos menores da Europa, devendo ficar em 2,6% do PIB, bem abaixo dos 7% da Espanha. Além disso, a balança comercial voltou a ter saldo positivo, de € 11 bilhões, devido a um aumento de 3,7% nas exportações e a uma queda de 5,7% nas importações.

Isso deve dar uma trégua à Itália, que nos últimos anos esteve na mira dos mercados financeiros e sob o risco de ter de pedir ajuda financeira à União Europeia, como fizeram Grécia, Portugal e Espanha.

Mas essa trégua pode não ocorrer, caso a eleição não produza um governo estável ou caso o novo governo mude radicalmente a política econômica e perca assim a confiança dos mercados, como aconteceu com Berlusconi, que foi forçado a renunciar no final de 2011.

Tanto esquerda como direita defendem uma atenuação das políticas de austeridade e a adoção de medidas de estímulo ao crescimento. Pressionado, até Monti admite reduzir o rigor fiscal.