Título: Competição com China e Índia exige modernização das máquinas
Autor: Tiago, Ediane
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2007, Caderno Especial, p. F4

A modernização do parque de máquinas e a oferta de novos produtos e aplicações estão no topo da lista de preocupações dos transformadores de produtos plásticos brasileiros. "É uma questão de sobrevivência", alerta Merheg Cachum, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). De acordo com o executivo, os fabricantes precisam adequar-se ao novo cenário de concorrência, marcado pela ascensão de países como a China e Índia e de seus novíssimos parques industriais. "Não adianta se queixar do câmbio o tempo todo. Precisamos investir para nos tornar competitivos. Não há outra alternativa", alerta o executivo.

As ações de modernização tornam-se cada vez mais urgentes, tendo em vista que o parque industrial do setor ainda é um grande gargalo. Segundo estimativas da Abiplast, do total de 8,8 mil empresas transformadoras, apenas 10% estão com as máquinas em dia e em condições de concorrer no mercado nacional e internacional. As empresas que precisam recuperar o fôlego por meio da renovação do parque enfrentam dificuldades como escassez de recursos, incertezas sobre o crescimento do mercado, altas taxas de juros e a dificuldade de conseguir empréstimos. "Faltam linhas específicas de crédito para o setor. Quem pretende financiar a renovação com juros menores, precisa enfrentar a burocracia e a concorrência de linhas como o Finame, do BNDES. Isso pode atrasar muito o processo", avalia Ricardo Max Jacob, presidente da Plásticos Mueller e membro da diretoria da Abiplast.

Tirar dinheiro do próprio bolso foi a alternativa encontrada pela empresa para modernizar seu parque e enfrentar a concorrência. Há dois anos, a Mueller iniciou um projeto de renovação que deve consumir R$ 40 milhões até 2010. Neste ano, a meta é alcançar o índice de 40% de máquinas trocadas. Para a empresa, que tem foco no mercado automobilístico e fatura em média R$ 320 milhões por ano, o investimento é essencial. "Optamos pela renovação porque vemos nela a oportunidade de manter nossos clientes no Brasil", declara Jacob. A estratégia pretende amenizar a enxurrada de ofertas de produto chineses que tem chegado ao mercado automobilístico brasileiro. "Estamos perto de nossos clientes, temos todas as condições de atendê-los com muita qualidade em produtos e serviços. Para isso, precisamos oferecer tecnologia de ponta."

A corrida pela modernização tem aquecido o setor de máquinas. Segundo a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o faturamento para o segmento de plástico cresceu 9,5% no primeiro trimestre de 2007. A entidade espera uma recuperação nas vendas para este setor, que amargaram queda de 13,8% em 2006. Isso se deveu em grande medida pelo volume de importações de máquinas, que teve acréscimo de 20% no último ano. "Os transformadores têm procurado por equipamentos com tecnologia de ponta, capazes de ampliar a capacidade de produção de suas plantas e de reduzir o consumo de energia", destaca Maristela Miranda, vice-presidente da Câmara Setorial de Máquinas para a Indústria do Plástico da Abimaq.

Também na área de equipamentos, a concorrência com a China tem prejudicado as empresas nacionais. Jacob explica que uma máquina chinesa chega ao Brasil por metade do preço das que são produzidas aqui, e por 30% do custo de uma máquina alemã. "Na produção de produtos simples, essas máquinas atendem bem. Então os transformadores vão buscar também esta opção", conta Jacob.

Como resultado, pelo balanço da Abimaq as importações também cresceram no primeiro trimestre deste ano, com evolução de 4,9% em relação ao mesmo período de 2006. "Apesar do crescimento das importações, impulsionado pela valorização do real, os fabricantes brasileiros têm investido para oferecer bom nível técnico, máquinas com produtividade mais adequada ao mercado nacional e a melhor relação custo-benefício", destaca Maristela. Já a competição com as máquinas européias, segundo ela, não é tão acirrada, uma vez que as importações têm foco em máquinas para aplicações específicas, ainda sem similares no Brasil.

Para quem já está com o parque instalado em dia, o foco do investimento é em inovação. É o caso da Amanco, fabricante de tubos e conexões, que vai investir, em 2007, R$ 27 milhões em projetos de desenvolvimento de novas soluções hidráulicas. "Estamos direcionados para a criação de aplicações que ainda não existem no mercado nacional, a exemplo da linha de tubos para água quente que já lançamos", exemplifica Marcos Bicudo, presidente da Amanco.

O objetivo da Amanco é o de ser reconhecida como uma empresa com alto índice de inovação. Para isso, lança mão de uma estratégia capaz de ampliar o mercado de tubos e conexões e oferecer produtos que permitam simplificar a vida dos profissionais que atuam na construção civil. "Ainda há muita demanda para a utilização de plástico como substituto de materiais ostensivamente utilizados na construção civil. Temos de fomentar este mercado oferecendo alternativas que reduzam custos e agreguem valor às obras", defende.

Para dar conta das pesquisas, a Amanco conta com a infra-estrutura de suas quatro fábricas, sendo que uma de suas plantas, localizada no Complexo Industrial de Suape no Nordeste do Brasil, foi inaugurada em 2005 e possui equipamentos de última geração, que contam inclusive com tecnologia de ecoeficiência. Além do parque instalado, a empresa aposta na colaboração científica com empresas estrangeiras. Um bom exemplo é a aliança tecnológica da Amanco com a holandesa Wavin, que fornece tubos e conexões para toda a Europa. "Acordos como esse nos permitem trazer as últimas novidades para o Brasil, além de incentivar a ´exportação´ de tecnologia nacional", comenta Bicudo.