Título: Governo vê limite para BB e Caixa
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2013, Finanças, p. C1

Depois de a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil anunciarem crescimentos espetaculares em suas carteiras de crédito em 2012, o governo começa a ver limites no avanço da posição de mercado dos bancos federais. O desejo é que as instituições privadas voltem a emprestar mais para dar mais equilíbrio ao mercado e evitar o domínio das públicas, que exerceram reconhecido papel anticíclico em 2012.

"Ninguém quer estatizar o sistema", disse um dirigente de um banco federal. As instituições privadas são consideradas pelo governo essenciais para diversificar riscos, estimular a concorrência e a inovação e puxar a retomada durante as mudanças de direção nos ciclos de crédito. Outra preocupação é trazer os privados para o financiamento de longo prazo da infraestrutura no país.

Ontem, o Banco do Brasil divulgou, no seu balanço, uma forte expansão de 25% da sua carteira de crédito em 2012, fruto de sua estratégia de agressiva redução nas taxas de juros. Dois dias antes, a Caixa Econômica Federal anunciou um crescimento de impressionantes 42% em sua carteira de empréstimos.

A estatização do sistema bancário é uma hipótese remota, mas os bancos públicos - BB, Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - já estão mais próximos de assumir uma posição preponderante no mercado de crédito. Dados do Banco Central mostram que a participação dos bancos públicos no total de crédito subiu de 43,5% para 47,3% entre 2011 e 2012.

"O banco privado é fundamental porque tem uma postura proativa para reagir quando há retomada no crédito bancário", afirma o vice-presidente de finanças da Caixa, Márcio Percival.

Os bancos públicos responderam por 72% do aumento do crédito bancário na economia no ano passado. "Nunca ninguém defendeu que o crescimento de crédito fosse apenas em bancos públicos", afirmou um dirigente de instituição federal. "Quem se retraiu foram os bancos privados." As instituições privadas restringiram empréstimos devido a incertezas no cenário macroeconômico e ao aumento de suas taxas de inadimplência.

Neste ano, a expansão dos bancos públicos tende a desacelerar, mas seguirá mais intensa do que a média de mercado. A Caixa projeta um crescimento de 35%. O Banco do Brasil prevê expansão entre 16% e 20%.

"Há limites para a expansão da Caixa e o BB", afirma uma fonte de um banco federal. "Chega uma hora em que começa a surgir problemas de falta de capital, começa a atrair clientes que não interessam, existe um limite físico para geração de crédito e a inadimplência pode subir."

Para reequilibrar o mercado, o governo vem indicando que a receita adequada não é colocar freio nas instituições federais, além daquele determinado pela velocidade mais prudente da expansão das carteiras de empréstimo. A receita seria convencer os bancos privados a voltar a emprestar. Daí os apelos nessa direção em reuniões recentes do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com banqueiros.

De certa forma, isso já vem acontecendo, com instituições privadas anunciando planos de expansão mais forte no crédito, de 15% ou mais, algo como o dobro dos 8% ocorridos em 2011. A dúvida é se, de fato, os bancos privados vão cumprir as metas de crédito que estão propondo.

"Está claro que os bancos privados precisam estar no jogo. A grande questão é como atraí-los", afirma uma fonte de um banco federal. "Os privados só agem se há incentivos, ou seja, a chance de ganhar dinheiro. Ou quando estão ameaçados, mas mesmo assim pesando riscos."

Em alguns segmentos do mercado, os bancos federais têm pouca margem para expandir suas carteiras se não estiverem acompanhados dos privados. É o caso do financiamento de grandes empresas, em que públicos e privados fazem consórcios para diluir sua exposição de risco a apenas um credor. A análise de crédito pelos bancos privados é considerada fundamental também para complementar a de bancos públicos nessas operações com grandes empresas.

A formação de consórcios será fundamental para viabilizar os planos do governo para alavancar os financiamentos a projetos de infraestrutura. Já há negociações entre bancos federais e privados para o financiamento de concessões de estradas.

Numa reunião recente para discutir fontes de financiamento, a presidente Dilma Rousseff insistiu na presença de bancos públicos e privados para ampliar a competição na oferta de crédito a obras de infraestrutura. A presidente também pediu um esforço da equipe econômica para diversificar as fontes de financiamento. Isso inclui atrair fundos de investimentos de regiões além do mundo desenvolvido, como a China e o Oriente Médio.