Título: Banco federal começa a compensar perda com juro
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2013, Finanças, p. C3

A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil começam a compensar com o aumento no volume de operações de crédito e redução do risco de inadimplência a perda de receita que tiveram com cortes agressivos na taxa de juros que fizeram no ano passado, mostram dados divulgados nos seus balanços anuais.

Seguindo orientação da presidente Dilma Rousseff de acirrar a competição no mercado de crédito, a Caixa foi um dos bancos que cortaram juros de forma mais profunda no ano passado.

O banco federal reduziu a taxa média cobrada nos seus empréstimos em 35% entre março e dezembro, acima da média de 25% do mercado. No mesmo período, a média diária de concessão de crédito da Caixa aumentou 68%, encostando perto de RS$ 1 bilhão em dezembro.

"As contas fecharam na Caixa", afirma o vice-presidente de finanças da instituição, Márcio Percival. "Conseguimos compensar no volume o que perdemos com os juros menores." A carteira de crédito cresceu 42% no ano, e o lucro subiu quase 17% no ano

Alguns analistas econômicos previram que, com a forte expansão de crédito, os índices de inadimplência na Caixa iriam subir. Por enquanto, o índice ficou estável, em 2,08% em dezembro.

No Banco do Brasil, que teve uma expansão de crédito de 25% em 2012, ainda vai levar de um a dois anos para a perda de receita com os juros menores ser compensada pelo aumento do volume, afirma uma fonte do banco.

Mas as contas já teriam começado a fechar no balanço anual, divulgado ontem, com a ajuda das provisões para devedores duvidosos, que ficaram menores porque os novos tomadores de crédito atraídos pelos juros mais baixos têm um perfil de risco melhor. "As provisões são como o colesterol", disse essa fonte. "Tem o colesterol bom e o colesterol ruim. Nosso colesterol bom ficou ainda melhor."

As provisões ruins são aquelas ligadas ao aumento da taxa de inadimplência. Não foi o caso do Banco do Brasil, cuja taxa de inadimplência recuou de 2,16% para 2,05% do quarto trimestre de 2011 para o quarto de 2012.

As provisões boas são aquelas ligadas à expansão de crédito. Pelas regras prudenciais do Banco Central, os bancos devem fazer provisões preventivas quando fecham novas operações de crédito. Clientes de menor risco exigem provisões menores do que os de maior risco. O BB, segundo a fonte da instituição, teve que fazer menos provisões porque os novos clientes que foram atraídos para a base de clientes são de menor risco.

Dirigentes do BB não negam que houve pressão para baixar os juros, mas ponderam que já havia em curso no banco federal uma estratégia para se adaptar ao novo ambiente de juros básicos mais alinhados aos padrões de outros países emergentes.

"Quando veio essa pressão do governo, que foi dirigida não apenas a nós, mas a todo o mercado, discutimos nossas opções internamente. Uma delas era esperar o mercado se mover e, depois, ter que cortar juros e correr atrás da perda de receita, sem ganho algum. Outra opção seria liderar o processo e ter um ganho no volume de crédito e, principalmente, na percepção dos clientes, vinculando ao banco a marca de quem tem juros mais baixos."