Título: Reciclagem beneficia apenas 20% dos produtos descartados no país
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Fonte: Valor Econômico, 07/05/2007, Caderno Especial, p. F6

A falta de coleta seletiva é hoje o principal empecilho para o avanço da reciclagem de plásticos no Brasil. Atualmente, o país já consegue recuperar cerca de 20% dos plásticos de vida curta, aqueles que são descartados em dois anos (como sacolas, garrafas PETs e outros tipos de embalagens), índice semelhante ao atingido pela União Européia. No entanto, a capacidade ociosa dos recicladores chega a 40% por falta de produtos, conforme dados do Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos (Plastivida).

"Hoje o problema não está mais na reciclagem e sim na falta de matéria-prima para reciclar, porque dependemos de uma questão de decisão do poder público e até da participação da sociedade", explica Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da entidade.

Tradicionalmente visto como um vilão da preservação do meio-ambiente, o plástico pode ser facilmente reciclado. No entanto, de cerca de 5,5 mil municípios existentes no país, apenas 351 possuem algum tipo de coleta seletiva. Apesar disso, só no último ano o Brasil chegou a reciclar 520 mil toneladas de plásticos, volume que vem crescendo fortemente, em torno de 50 mil toneladas ao ano, nos últimos anos. O preço médio também vem subindo, o que explica o interesse pelos recicladores, passando de R$ 1.750 por tonelada em 2003 para R$ 2.117 em 2006, o que representa aumento de 21% em apenas três anos.

Para Esmeraldo, o plástico vem ganhando valor e isso pode ser facilmente comprovado se comparado à reciclagem do alumínio, na qual o Brasil é campeão. "Só em 2005 foram reciclados 294 mil toneladas de alumínio, enquanto os plásticos chegaram a 456 mil toneladas, ou seja, mais que o dobro. Isso demonstra que a atividade é lucrativa, só que a ineficácia da coleta seletiva do plástico impede um resultado melhor", explica.

Conforme estudo feito pelo Plastivida, o número de empresas recicladoras no país tem aumentado constantemente, com crescimento de 104% de 2003 para 2005. A reciclagem de plásticos, no total, isto é, pós-consumo e mais os resíduos industriais, também aumentou no mesmo período 109,2%. O faturamento registrou crescimento de cerca de 132,15%; o número de empregados diretos teve alta de 152,5% e o crescimento na capacidade instalada foi de 121,4%.

Mundialmente, ficou constatado que a União Européia e países da Europa Ocidental, com base em dados de 2004, possuem taxa média de reciclagem de 17,8%, sendo que a Alemanha lidera o ranking, com índice de 32,1%. Comparativamente, o Brasil apresentou um índice de reciclagem de 17,2% em 2004, calculado sobre os mesmos parâmetros metodológicos e, já em 2005, a porcentagem passou para 19,8%.

De acordo com a diretora técnica da entidade, Silvia Rolim, quando se recicla o plástico, o maior beneficiado é o meio ambiente. Um produto plástico pode levar até 500 anos para se degradar quando jogado na natureza. Mas pode ser facilmente reciclado para utilização em produtos que não serão utilizados diretamente em alimentos ou outros usos que impliquem riscos à saúde humana.

Além disso, a cadeia de reciclagem de plásticos ainda possui uma grande capacidade de geração de empregos. Atualmente, trabalham diretamente na atividade 17,5 mil pessoas, número que podem ser multiplicado por até quatro se forem considerados os trabalhos indiretos, como coletas através de cooperativas, segundo Silvia. O desestimulo, porém, fica por conta dos impostos que são cobrados novamente para um produto reciclado, que teoricamente já foram pagos em sua primeira "vida útil".

"Na verdade, toda a questão do resíduo é ainda muito polêmica, porque quem faz a coleta de lixo comum recebe por tonelada depositada nos aterros. E eles não vão querer que se retirem do lixo tradicional os produtos plásticos", explica. Outro ponto que vem provocando discussão, de acordo com Silvia, fica por conta do desenvolvimento de um plástico que seja biodegradável.

"Muitas empresas até afirmam que já possuem este produto, mas ainda não está comprovado que o aditivo resolve o problema e que seja realmente eficiente, porque para se biodegradar é preciso que exista uma série de fatores essenciais, conforme normas internacionais", afirma a técnica.

É possível economizar até 50% de energia com o uso de plástico reciclado. No Brasil, entretanto, o maior mercado ainda é o da reciclagem primária, que consiste na regeneração de um único tipo de resina separadamente. Este tipo de reciclagem absorve 5% do plástico consumido no país e é geralmente associada à produção industrial, ou pré-consumo.

Para ampliar cada vez mais a reciclagem de plásticos, o instituto vem participando ativamente de audiências públicas para políticas de resíduos sólidos. Entretanto, o lixo, ainda é uma responsabilidade das prefeituras e por isso a reciclagem depende da ação do poder público. Hoje já existem no Brasil 14 centros de triagem. O crescimento da consciência de preservação ambiental por parte da sociedade também é fundamental, conforme a direção do Plastivida. "Somente com ação do poder público, aliado a uma forte educação do povo, conseguiremos ampliar a reutilização dos plásticos e fazer com que a reciclagem tenha cada vez maior impacto no meio ambiente", diz Silvia.

O presidente da entidade, entretanto, alerta para o excesso de culpa impingido ao plástico na questão da poluição. "Por ser proveniente do petróleo e ser uma poluição visível, ele é considerado um vilão. Mas num rio poluído, por exemplo, enquanto o plástico bóia existem coisas muito piores que ficam no fundo", afirma. Atualmente, o uso do plástico é extremamente amplo, presente em praticamente todas as áreas. Isso porque sua maleabilidade permite adaptação a diversos tipos de utilização, indo desde a cozinha até roupas e automóvel, tomando o lugar, muitas vezes de materiais como madeira e aço. (A.L.F.)