Título: Japão deveria acelerar utilização do etanol, diz ministro de Agricultura
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Brasil, p. A2

O ministro da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão, Toshikatsu Matsuoka, disse ontem que seu país está "atrasado" em relação ao Brasil na pesquisa e utilização de biocombustíveis, como o etanol. Ele classificou o país como "o mais desenvolvido do mundo" nessa área.

Matsuoka justificou sua autocrítica. O Japão iniciou no dia 27 de abril os primeiros testes com o etanol em postos de abastecimento, enquanto o Brasil já mistura 23% de álcool à gasolina. A legislação japonesa prevê que a mistura deve chegar a 3%. Mas, segundo o ministro, a meta do Japão é alcançar 10%.

"Pretendo dedicar todas as forças ao meu alcance para que essa meta seja atingida, a fim de acelerar ao máximo o uso do etanol no Japão", disse Matsuoka. Ele ressaltou que o país deve seguir esse caminho devido aos problemas enfrentados pelo mundo com o aquecimento do global.

Durante os dois dias de visita a São Paulo, concluídos ontem, o objetivo do ministro japonês era ver de perto como funcionam os carros flex-fluel. Ele visitou a fábrica da Honda para avaliar como uma empresa japonesa empregava essa tecnologia. Matsuoka contou que dirigiu, pessoalmente, automóveis movidos à gasolina e a etanol e não percebeu "nenhuma diferença"

"A Honda é uma empresa produzindo carros com etanol no Brasil, mas não no Japão", disse o ministro. "É uma pena considerando que se trata de uma empresa japonesa." Mas ele deu parabéns à companhia pelo desenvolvimento da tecnologia.

Para Matsuoka, Brasil e Japão estão no limiar de uma terceira fase de cooperação agrícola, que já teve vários formatos. Primeiro, com a imigração japonesa e a introdução da avicultura no país. Depois, com o Projeto Cerrado, desenvolvido com tecnologia e recursos japoneses

Antes de chegar a São Paulo, Matsuoka esteve na Argentina e em Genebra, na Suíça, para discutir as negociações da Organização Mundial de Comércio (OMC). Ele se reuniu com o diretor-geral da organização, o francês Pascal Lamy.

Na entrevista coletiva ontem em São Paulo, Matsuoka fez duras críticas ao esboço de acordo apresentado recentemente pelo mediador da negociação agrícola, o neozelandês Crawford Falconer. "Em vez de organizar, esse paper pode trazer confusão para as partes interessadas", disse. Ele ressaltou ainda que o esboço "não tem equilíbrio" e que as conclusões "não são realistas".

"Não entendemos que o paper representa uma proposta concreta, mas um conjunto de desafios", disse o ministro japonês. O documento sugere que o Japão corte entre 53% e 75% dos subsídios agrícolas que concede aos seus produtores. Para aqueles subsídios que mais distorcem o comércio, o corte seria de 60%.

Matsuoka ressaltou que uma série de países também não concorda com Falconer. Na sua avaliação, esse é o caso dos EUA, que reluta em reduzir os subsídios aos produtores, da Austrália e do Canadá, que querem ser mais ofensivos porque são exportadores, e da Índia, que não estaria satisfeita com a limitação dos produtos especiais.

"O Japão tem um papel bastante importante nas negociações, porque é o país que mais importa alimentos no mundo", disse Matsuoka. "E esse tipo de negociação não pode ser apenas com os países exportadores", completou. O ministro japonês reforçou que seu país não se considerou excluído, enquanto os entendimentos se restringiam a Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia. Isso porque, para o Japão, as negociações da OMC só agora estão "no ponto de partida". "O que puder ser cedido, certamente será cedido pelo Japão. O que não puder ser aceito, não será aceito", disse Matsuoka